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Editorial Sambario

Edição nº 41 - 13/3/2011

Castigo pela ousadia - O sol quase raiando na já manhã de segunda-feira de carnaval. A Mangueira fechava com emoção a primeira noite de desfiles do Grupo Especial. A bateria Surdo Um realizava um espetáculo. Sua inigualável paradinha (ou paradão) de 20 segundos, só com o impressionante canto verde-e-rosa sustentando o samba-enredo, era um dos mais emocionantes momentos dos últimos anos na Sapucaí. Aquilo sim um carnaval de verdade! A emoção do componente estava ali, registrada, pro mundo ver. Ao mesmo tempo, veio-me um temor, com um quê de certeza. Os jurados iam canetar. Claro, os julgadores hoje em dia não perdoam ousadia. Só estão ali para avaliações técnicas, premiar a quadradice... e o resto que vá pras favas. Nesse ano, as baterias procuraram brincar mais, capricharam nas bossas, nas paradinhas, sem medo de ser feliz... e da temida caneta dos jurados. Quarta-feira de Cinzas. Jorge Perlingeiro lê as notas do quinto e último módulo do quesito. Julgador: Luiz D'Anunciação, 85 anos, também conhecido como Mestre Pinduca. A Mangueira, premiada justamente com o Estandarte de Ouro de melhor bateria (assim como no Prêmio Sambario), já havia perdido alguns décimos, na mesma proporção das demais oito agremiações avaliadas. Porém, Perlingeiro anunciou a nota do cidadão: nove. Nove ponto o quê? Nove ponto nada mesmo! O homem tirou um ponto inteiro do Surdo Um. Na certa, quando a LIESA divulgar as justificativas, lá estarão queixas contra o paradão, que foi tempo demais, que foi bagunçado, que a escola só cantou, que ouviu um segundo surdo além do característico surdo de primeira, e mais blá blá blá prolixo. É isso que emperra a alegria do nosso carnaval atualmente. Quando enfim presenciamos uma escola encantar a Sapucaí com seu canto, impressionar pela sua alegria, pelo samba na ponta da língua (o que hoje é raro), aparecem jurados como D'Anunciação para promover novamente a quadradice e a burocracia das apresentações, provavelmente privando o folião de assistir a espetáculos como esse num futuro próximo, impondo um castigo pela ousadia. O consolo é que o nove de Pinduca foi descartado no resultado final. Mas talvez nunca mais a bateria mangueirense nos proporcione esse momento. Com tantos descontos no quesito para as demais escolas, será que as bossas contidas novamente darão as cartas? Se em 2012 não acompanharmos baterias tão vibrantes como neste ano, não se esqueçam do culpado...

A propósito... - Consta no Manual do Julgador da LIESA algum item que obriga o jurado a dar nota 9,7 para a escola oriunda do Acesso, no caso a São Clemente?

Desafiando o sistema - Foi a bateria do Salgueiro quem veio fantasiada de oficiais do BOPE. Mas quem merecia estampar a "caveira", ainda que metaforicamente, é Ivo Meirelles (D). O presidente da Mangueira, em discurso lido de forma arrepiante por Milton Gonçalves antes do desfile, exaltou o fato de apresentar enredos não-patrocinados, desafiando assim o atual "sistema" que reina nas escolas de samba. Preterindo temas burocráticos oferecidos por empresas e prefeituras em prol de uma homenagem ao centenário de Nelson Cavaquinho, Ivo resgatou a alegria dos desfiles verde-e-rosa. Com relação a 2010, melhorou três colocações, chegando a um festejado terceiro lugar. O impressionante canto mangueirense contagiou a todos no fechamento da primeira noite. Muito se deve às felizes escolhas do samba-enredo. Tanto nesse ano como no anterior, a Estação Primeira foi premiada com cinco notas 10 no quesito. Aliás, em 2011, só a Mangueira foi 50 em samba. Justiça para o melhor samba-enredo do Grupo Especial de 2011 (que me perdoem o Estandarte de Ouro e os gresilenses). E os dois sambas escolhidos por Ivo não estavam entre os mais cotados nas respectivas disputas. O anúncio do samba atual, composto por uma parceria paulista com condições financeiras e prestígio inferiores a muitas concorrentes, deixou todos na quadra estupefatos. Mas o tempo provaria que Ivo tinha razão. O samba-enredo foi o que mais encantou a Marquês de Sapucaí nas duas noites de gala do carnaval. Mas agir contra o "sistema", amigo, pode dar margem a vários problemas. Vamos ver até quando Ivo irá resistir...

O resgate de um intérprete - Wander Pires (E) andava rejeitado. O talentoso intérprete nos últimos carnavais mais havia protagonizado infortúnios do que êxitos. Na Grande Rio, chegou na Sapucaí com o desfile em andamento. Na Mocidade e Viradouro, foi dispensado após divergências internas. Além de tudo, foi preso por falta de pagamento de pensão alimentícia, autuado após a gravação da vinheta da Viradouro para a Rede Globo. Quando a fase de inferno astral parecia não ter fim, eis que a redenção apareceu... longe da Marquês de Sapucaí. Foi contratado pela paulistana Vai-Vai e pela porto-alegrense Estado Maior da Restinga. Desfilou pela escola do Bixiga no Anhembi na sexta-feira e na noite seguinte defendeu a Tinga no Porto Seco. Numa única tarde de Terça-Feira Gorda, veio a dupla consagração: campeão nas duas. Uma bela volta por cima de um intérprete fora-de-série, dono de um estilo imitado por muitos, e que muito tem a oferecer ainda no carnaval. Parabéns, Wander!

A propósito... - Força, Dominguinhos do Estácio! Que a Virgem de Nazaré lhe ilumine em sua recuperação!

A música venceu! - Só a intenção da homenagem a esse exemplo de superação e amor pela vida já fez da Vai-Vai uma escola campeã. O título após o desfile sobre a vida de João Carlos Martins foi apenas uma mera consequência. Esse homem merece todas as nossas reverências. Obrigado, Maestro!

O tombo de Ana Hickmann - Durante o desfile da Grande Rio, a apresentadora da Record apareceu durante longos segundos focalizada pela câmera da Globo, porém sem ter seu nome mencionado pelos locutores Luís Roberto e Glenda Kozlowski por motivos óbvios. Por pouco tempo! Sob a chuva forte que caía naquele momento, foi só ela despencar no chão molhado da pista e dar com a cara e os joelhos no asfalto para enfim ser "lembrada" pelos narradores da Vênus. Com direito a repeteco do momento constrangedor em câmera lenta. Ana Hickmann foi até entrevistada pela reportagem global na dispersão, um feito para um profissional da emissora do bispo. Mas as coisas voltariam "ao normal" minutos depois. Tom Cavalcante, ex-Globo e também contratado da Record, seria focalizado por alguns segundos, mas sem ser creditado na transmissão. Confira o tombo de Ana Hickmann abaixo!


A propósito...Assim como brinquei nos comentários dos sambas do Especial de 2011, o humorista Hélio De La Peña também não parou de fazer graça com as inúmeras citações ao Egito nos desfiles. Mas ainda faz muita falta especialistas de fato em carnaval na transmissão da Globo. Haroldo Costa, com direito a um mísero comentário por escola e obrigado a dividir a famigerada Esquina do Samba com celebridades, acaba sacrificado. Já passou da hora de colocar uma equipe mais crítica nos desfiles. Maria Augusta faz falta!

Quem quer ver Salvador, Band? - Existe algo mais melancólico para o amante de escola de samba do que, durante a transmissão de um  desfile, aparecer no GC "A seguir, Chiclete com Banana ao vivo de Salvador"? Pois foi esse fardo que o telespectador ansioso pelos desfiles do Grupo de Acesso (ganho pela Renascer de Jacarepaguá, à direita) precisou segurar para acompanhar a transmissão da Rede Bandeirantes. As apresentações das escolas não eram exibidas integralmente, e sim interrompidas antes do final para a Band poder exibir intermináveis flashes de Salvador e Recife. Aí quando a emissora voltava para a Marquês de Sapucaí, a escola seguinte já estava na metade do desfile. A péssima cobertura gerou críticas por parte do presidente da LESGA, Reginaldo Gomes, que prometeu rever o acordo com a Bandeirantes para 2012. Quem perderá com isso é a própria empresa dos Saad, pois foi o Acesso do Rio quem proporcionou a única ocasião em que o "Band Folia" foi vice-líder em audiência.

"Qual o quesito, pô?" - O momento impagável foi protagonizado pelo jornalista Anderson Baltar na Rádio Papo de Samba, durante a "tortuosa" cobertura da apuração da LESGA na Quarta-Feira de Cinzas. A Liga que administra os Grupos A e B ainda tem muito o que aprender em termos de organização, pois além de não ter produzido nenhuma planilha com as notas para a imprensa, seu locutor Miro Ribeiro ainda comprometeu com uma atrapalhada leitura, em ritmo acelerado, sem tempo para os repórteres se situarem na contagem das notas, e ainda omitindo o nome do julgador e do quesito em muitos casos, o que levou nosso amigo Baltar à loucura. O ocorrido na apuração do Grupo C no dia seguinte também foi de se lamentar. Após a Favo de Acari ser considerada campeã, fora constatado que suas últimas notas haviam sido lidas equivocadamente e que elas seriam destinadas à Unidos de Vila Santa Tereza. Resultado: o título e o acesso à Sapucaí em 2012 foi transferido de Acari para Santa Tereza. Mais organização no ano que vem e canja de galinha certamente não fazem mal a ninguém! Muito pelo contrário...

A propósito... - Por que a Unidos da Ponte fez questão de omitir que seu belo samba-enredo "Orixás" se tratava da reedição de uma obra derrotada no enredo "Oferendas" de 1984, tentando vender a ideia de que fora um samba encomendado?

Prêmio Sambario 2011 - A seguir as imagens dos melhores do carnaval, eleitos pela equipe do site dos sambas-enredo! Créditos: O Dia na Folia, Terra, BOL e SRZD-Carnavalesco.


Escola - Vila Isabel


Samba-enredo - Mangueira


Enredo e Bateria - Mangueira


Casal de Mestre-Sala e Porta-Bandeira - Geovana e Marquinhos (Unidos da Tijuca)


Comissão de frente - Unidos da Tijuca


Ala - Azul da Cor do Mar (São Clemente)


Ala das Baianas - Mocidade


Alegoria - King Kong no Relógio da Central (Salgueiro)


Intérprete - Neguinho da Beija-Flor (Beija-Flor)


Personalidade - Beth Carvalho


Rainha de Bateria - Renata Santos (Mangueira)


Escola e Enredo (Grupo A) - Império da Tijuca


Samba-enredo (Grupo A) - Império Serrano


Intérprete (Grupo A) - Leandro Santos (Estácio de Sá)


Samba-enredo (Grupo B) - Tradição


Escola e Samba-Enredo (São Paulo) - Vai-Vai


Intérprete (São Paulo) - Royce do Cavaco (Nenê de Vila Matilde)



Parabéns à Beija-Flor de Nilópolis, que recuperou seu título trazendo o Rei Roberto Carlos (acima) triunfalmente à Sapucaí. Congratulações, União da Ilha do Governador, por arrebentar no Estandarte de Ouro! Bem-vinda, Renascer de Jacarepaguá, ao Grupo Especial! Saudamos a volta do Paraíso do Tuiuti ao Grupo A após exaltar Caetano Veloso. Um salve também para a Unidos de Vila Santa Tereza, que regressa à Marquês de Sapucaí de onde estava ausente desde 1995. Até 2012!