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Coluna da Denise

O DISPUTADÍSSIMO ACESSO AO GRUPO ESPECIAL EM 2014

25 de janeiro de 2014, nº 48, ano VIII

A polêmica junção dos antigos Grupo A e B em 2012 deu o que falar, mas o que se viu, no carnaval de 2013, foi o prestígio do desfile, com televisionamento pela Rede Globo de Televisão, boa organização do desfile (mesmo com excesso de escolas – eram 19) e resultado, na medida do possível, justo. Ficou visível, sem dúvida, a discrepância entre os desfiles, especialmente de algumas escolas vindas do Grupo B, que  mostraram um carnaval aquém do que se esperava do grupo e acabaram decepcionando.

Para 2014, entretanto, com a redução do Grupo para 17 escolas, e, com a possibilidade de em 2015 termos apenas 15 escolas, é bem possível que o Grupo fique mais atrativo e mais homogêneo.

O lado triste, até o momento, é ver que a Rede Globo, que levou a sério a criação do Grupo, realizando reportagem em todas as quadras das 19 escolas que desfilaram em 2013 no Grupo, não estar tendo o mesmo empenho para o carnaval de 2014. Espera-se que até o carnaval a emissora possa nos brindar com suas excelentes reportagens.

Como as escolas ainda são muitas, resolvi, aleatoriamente, agrupá-las, sem ter nenhuma pretensão de julgá-las de forma antecipada. A sequência procurou estabelecer o seguinte critério: a) escolas campeãs do Especial; b) escolas que se mantiveram durante muitos anos no Especial; c) escolas que estiveram recentemente no Especial; d) escolas que estiveram no Especial na fase pré-Liesa; e, d) escolas que nunca estiveram no Especial.

O Império Serrano pretende provar ser ainda o maior Império de bambas. Vivendo o momento mais frágil de uma crise duradoura, a escola vai para o seu quinto ano consecutivo no Grupo de Acesso, tentando voltar à elite do carnaval, na qual já foi rei por 9 vezes. Para tanto, usa Angra dos Reis como cenário do seu encontro com o Reisado, sob as bênçãos de Iemanjá. Ofertando alegria, entoando louvores, seguindo o cortejo ao toque do agogô, a escola abre a roda do terreiro, e, inspirada na harmonia da montanha com o mar, busca enxergar um novo horizonte para fazer Madureira chorar, não de dor, mas de alegria.

A Viradouro também tenta voltar ao seu lugar. Para evitar ser vice mais uma vez, a escola vira a página e canta o orgulho de ser de Niterói, cruzando a ponte para unir a cidade sorriso à maravilhosa. A escola que já fez parte da nobreza, e faturou um campeonato, promete não vacilar e reviver seus grandes carnavais. Nessa empreitada, conta com personagens ilustres como Arariboia, Barão de Mauá, Ismael Silva, João Caetano, Profeta Gentileza e Oscar Niemeyer. Trunfos para a escola levar a arte do samba no pé e estampar o sorriso no rosto na quarta-feira de cinzas. 

Por sua vez, a Estácio de Sá também cruza a Guanabara. Se o Império canta a Costa Verde, a Viradouro canta o lado de lá, Niterói, a Estácio canta o lado daqui, Rio, mas precisamente a região do Porto do Rio. Nesse desembarque, a Estácio tem muita história para contar. Parte dessa história tangencia o enredo que a coirmã Portela vai levar no Grupo Especial. Mas o enredo da Estácio vai além. Tem um pouquinho da favela da São Clemente, do batuque do Império da Tijuca e vários episódios já decantados no carnaval, até pela própria Estácio, e de fatos históricos, como a Revolta da Vacina, da Chibata, que se entrelaçam no conciso e competente desenvolvimento do maravilhoso enredo.  Impulsionada por este processo de modernização, a brava Estácio, campeã do Grupo Especial em 1992, vai à luta em busca de sua conquista. 

Outra velha e batalhadora conhecida do Grupo Especial, a Caprichosos de Pilares deixou de marcar bobeira e, pelo visto, encontrou-se no cenário do carnaval. Inspirada no tão decantado bairro da Lapa, abençoada por águas de Oxum, a escola pretende erguer um arco de fé para seu tão esperado retorno ao Grupo Especial, grupo no qual a escola já bordou e pintou no carnaval e viveu momentos que o tempo jamais apagará de nossa memória. A escola levou algumas rasteiras nos últimos anos, mas o chão continua sendo um dos pilares da escola para sustentar seu desfile. A tarefa não é fácil. Tem muitas concorrentes ilustres de baixo da aba do chapéu de Pilares. Isso não impede, entretanto, que a escola olhe pra cima, já que, desde 2013, voltou a estar a um passo da glória. 

Em linha não tão ascendente quanto a de Pilares, pelo menos até o último carnaval, situa-se a Tradição, formada por dissidente da Portela, escola que teve a trajetória mais rápida do carnaval carioca. Em apenas três anos de desfile conseguiu chegar ao Especial, passando por todos os grupos. Após isso, a Tradição alternou alguns rebaixamentos e ascensões. Até a atual fase, de estagnação e de sucessivas reedições de samba, da Portela, do Salgueiro, dela própria, e, em 2014, pelo segundo ano consecutivo reedita mais um, dessa vez o que deu à Beija-Flor o primeiro campeonato em 1976. Talvez esperando ganhar alguns mil réis, espera-se que a escola não apresente um carnaval de dez tostões.

Com um dos melhores enredos da Série A, o Porto da Pedra nos convida a bailar. Tomado de assalto, após um longo período no Grupo Especial, entre sorrisos e lágrimas, o Porto da Pedra tenta mostrar que seu encanto não se desfez. Mesmo ainda se recuperando das marcas do rebaixamento, foi buscar na essência do carnaval – uma homenagem aos casais de mestre-sala e porta-bandeira – a força motriz para voltar ao Grupo Especial. A escola se rende à beleza e à leveza e promete mais suor pela arte, em defesa das cores e tradição. Espera-se a cumplicidade do público e jurados, mas a escola também apela para o sagrado, a  mão divina para lhe conduzir de volta para Casa. Sustentado pelo excelente chão de seus componentes - a alma da escola - o Tigre pode sair coroado, com a cidade inteira a seus pés.

A Santa Cruz, escola que já teve algumas participações no Especial na fase pré e pós-Liesa, já deu as cartas no Grupo de Acesso. De uns tempos pra cá, perdeu visivelmente seu espaço, mas foi buscar um braço forte no município de Jundiaí para transformar o seu destino. Com patrocínio e uma comunidade que faz acontecer, a escola promete fazer o chão da Sapucaí tremer antes da passagem do Império da Tijuca. Considerando que Mangaratiba, Paraty e Corumbá já levaram escolas ao Grupo Especial,  há a esperança de Jundiaí, ao menos, dar a Santa Cruz a possibilidade de brigar pelo campeonato. 

Se o patrocínio da Santa Cruz pode lhe render bons frutos, a Rocinha, ao que parece, diante das últimas notícias, não deu sorte. O retorno do patrocínio parece que não vingou e a escola vai desfilar na sexta e muito cedo, sendo a terceira a entrar na avenida de um total de 17 escolas. Mas, a princípio, a borboleta nem quer saber de ser a soberana, quer mais é ficar lelé da cuca e cair na gandaia, ao atravessar o túnel e se encantar com a Miami brasileira. Decantar a Barra da Tijuca de forma alguma é voltar à sua era emergente, que já passou. Nessa nova era de criatividade e valorização dos quesitos técnicos, para surpresa de muitos, a escola de São Conrado tem passado muito bem, com chão e enredos de fácil leitura para público e jurados. A Rocinha sabe que o paraíso não é no Grupo A, logo, parte em busca da medalha que fará de seu desfile o vencedor para levá-la de volta ao Grupo Especial. 

O Paraíso do Tuiuti abriu mão de patrocínio, mas procurou o caminho das reedições. Kizomba, o mágico desfile da Vila Isabel em 1988, que correu terras, céus e mares e nunca se repetiu, foi o escolhido para ser revivido em 2014 pela escola de São Cristovão.  O difícil é ter jogo de cintura para cantar em plenos pulmões “Hoje a Vila é Kizomba”. De qualquer sorte, o Tuiuti convoca toda a massa para falar da cultura negra. Enquanto o Tuiuti batuca, canta e dança, a Lierj faz valer seus ideais e já acena com a impossibilidade de reedições sucessivas no grupo. 

Diferentemente do Tuiuti e da Tradição, a Em Cima da Hora também reedita, sendo que o samba é de sua coletânea. Depois de algum tempo na "poeira" da Intendente, a escola de Cavalcanti está de volta ano que vem ao palco principal dos desfiles das escolas de samba para a difícil missão de abrir o desfile não só do grupo de acesso, mas do carnaval carioca, em plena sexta-feira. Tal qual o cenário que irá retratar, onde a terra é seca, morrem as plantas e foge o ar, a escola, em flagrante desvantagem pelas "leis" que regem o carnaval, tenta fôlego para a difícil tarefa. Sua principal arma é o antológico samba "Os Sertões", que tem a finalidade de reescrever uma história diferente, já que da primeira vez que o samba foi apresentado, a escola fez um desfile problemático, que a levou ao rebaixamento. Desacredita, a escola promete lutar até o final, defendendo-se como os sertanejos, homens fortes retratados no desfile, que superam as adversidades. A expectativa é grande, pois pode ser a oportunidade ímpar de a escola voltar a se destacar no cenário do samba, coisa que não acontece desde o século passado. 

Se a Em Cima da Hora veio da Intendente, a Inocentes de Belford Roxo chegou ao Grupo vinda do Grupo Especial. Apesar de efêmera, sua estreia no Grupo Especial proporcionou à escola a continuidade na Cidade do Samba com as 12 escolas do Grupo Especial. A escola pretende reafirmar o seu valor com o enredo sobre a vida de Joaquina Lapinha, uma atriz e cantora negra que viveu no período colonial brasileiro. O enredo une dois grandes momentos das últimas campeãs do Grupo: a Ópera, do enredo Corumbá, da própria Inocentes, e a mulher negra, da campeã Império da Tijuca. Na ópera do povo, a escola quer ser feliz de novo. 

A Renascer de Jacarepaguá busca elã no cartunista Lan. A escola que já se orgulhou de nunca ter sofrido rebaixamentos, terá de redesenhar sua trajetória depois do primeiro ocorrido no Grupo Especial de 2012. Ano passado, a escola ficou longe de brigar pelas primeiras posições. O trunfo para 2014, até o momento, é o samba. Mas para subir, é preciso bem mais que um samba no pé e uma ideia na cabeça. No entanto, ao que nos parece, a escola virá mais leve, pois o enredo permite uma fácil identificação do público ao retratar gente como a gente, cavaco e pandeiro, favela, mulata, futebol, malandragem e religiosidade. No mais, é aguardar e conferir se os personagens, dentre elas, a colombina, que poderá ajudar a leva-la ao desfile principal.

A Unidos de Padre Miguel talvez seja a escola que melhor aproveitou a chance da junção dos antigos grupos B e A e esse fato se revelou na apuração. A escola ficou com pontuação superior a algumas escolas do extinto Grupo A. Para 2014, a escola não se acomodou na redoma de simplesmente participar. Para não ser devorada e voltar para a poeira, inverteu o jogo, aproveitou o desafio e foi atrás de desvendar o enigma para achar a chave que abre as portas do Grupo Especial. E tal solução traduzida em um trabalho sério pode trazer mais cedo do que se espera a recompensa. Nessa peça de encaixes, a escola procura saber como será o seu amanhã? Brincando de adivinhar, não precisa ir tão longe para descobrir. A felicidade no peito pode estar bem próxima de ser encontrada. 

Diferentemente da Unidos de Padre Miguel, a União de Jacarepaguá ainda é olhada com olhos desconfiados pela travessia do Grupo B para a Série A. O enredo falará sobre os iorubás, exaltando os ancestrais do povo negro que exerciam a prática e a crença de seus rituais sem nenhum tipo de preconceito. Aliás, o preconceito é o grande desafio da escola. A União é uma das escolas que explora a África no Grupo, e, ao som do tambor, a escola canta os orixás, o candomblé e espera que seu sonho, de ser julgada sem preconceito e distinção, vire realidade em 2014. Enredos que tangenciam a África sempre são apropriados no desfile, ainda mais depois da vitória no grupo do Império da Tijuca. 

Por falar em rituais, quem iniciou os trabalhos cedo, no entanto, foi a Cubango. Depois de sair decepcionada com a colocação no carnaval de 2013, a escola fez uma viagem em suas origens de enredos afro para buscar a força espiritual necessária para suportar tantos reveses. Seguindo tal linha, a escola vai trazer um pedacinho da África para Sapucaí e promete um ritual contagiante com ritmo sincopado em homenagem a todos os povos do berço da humanidade. O samba é o destaque da safra de todos os grupos e o enredo ganhou mais força com a morte de Nelson Mandela durante a execução dos trabalhos. Quando ressoarem os tambores, pulsarem forte os corações dos componentes, a Cubango tentará mais uma vez atravessar o portal que a separa de ser uma escola especial. Quis o destino que ela mais uma vez fechasse os desfiles da Série A. Com o corpo também fechado, a demanda da resistente Cubango é uma só: vencer.

Quem promete também seguir um ritual, o de dar cachaça para os santos,  é a Curicica. Uma das escolas mais jovens do Grupo A, leva um enredo não é inédito, pois já passou pelo Salgueiro e pela Imperatriz, mas com uma proposta diferente, buscando, inclusive,  inspiração no barroco. A garapa dos idealizadores parece que fermentou. E não é que deu samba. Por fim, a escola quer fazer do limão uma limonada, para não ser limada. Espera-se que com o tema a escola não entre numa gelada.

A geladíssima cerveja, no entanto, deve estar presente no desfile da Alegria da Zona Sul, que exalta o bairro de Copacabana. Canta Galo, Pavão e Pavãozinho pretendem dar um banho de emoção, num cenário que conta com um drink, um banquinho, um violão, praia, sol, curtição. Nas ondas da ambição, a escola pretende transformar o sonho de brilhar em real. Para tanto, promete um mar de lindas fantasias, luxo e requinte à francesa. Tudo isso regado com oferendas à rainha Iemanjá. Inspirando-me em Rubem Braga em “Ai de ti, Copacabana”, “uivai, mancebos, e clamai, mocinhas, e rebolai-vos nas Cinzas, porque já se cumpriram vossos dias, e eu vos quebrantarei”.

Por fim, resta-me desejar a todas as escolas, do Especial àquelas que desfilam na Intendente, que se superem e façam um grande carnaval. Feliz carnaval a todos os leitores desta coluna.