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Coluna da Denise

RETROSPECTIVAS E PERSPECTIVAS - PARTE 1

24 de dezembro de 2013, nº 46, ano VII

Todo fim de ano é hora de fazermos um balanço do que aconteceu e projetar para o ano que se inicia a solução para as questões mal resolvidas. Pensado nisso, tentei sintetizar aquilo que eu penso sobre as 12 escolas que estarão competindo no Grupo Especial de 2014. É uma visão por demais particular, que pode não refletir com exatidão o momento de cada uma delas. Nem teria essa pretensão.

Nesta primeira parte, abordo as escolas que irão desfilar no domingo de carnaval da Sapucaí. Como é sabido, a campeã dificilmente sai desse dia, mas quis a sorte que o domingo de 2014 ficasse fortíssimo, especialmente na parte final, com três escolas poderosas em sequência.

IMPÉRIO DA TIJUCA – O DESAFIO DE SER O PRIMEIRO

Campeã dos jurados e do público em 2013, o Império da Tijuca exaltou a mulher negra na avenida e desde a bela comissão de frente, formada por 14 feiticeiras, até a última alegoria, uma homenagem a Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil, impressionou pelo samba, pela garra e pelo chão.

Desde 2004, quando o Império da Tijuca ganhou um novo comandante, a escola conquistou cinco estandartes de ouro e o campeonato do Grupo A em 2013. Com bons sambas e desfiles competentes, a escola chega ao Especial com moral.

Em 2014, a escola enfrentará um desafio nada animador, pois nesses 30 anos de desfiles em dois dias, a estatística não é nada promissora. Apenas quatro escolas que ascenderam de grupo conseguiram a proeza de permanecer no grupo: União da Ilha, em 2010, a Caprichosos, em 1998, a Unidos da Tijuca em 1988, e a Unidos da Ponte, em 1986. Ciente da responsabilidade, a escola do Morro da Formiga vai bater o seu tambor.  Com seu batuk, a escola abre os trabalhos e promete dar um nó nessa madeira, embalada pelo brilho que caracterizou seus últimos desfiles, em especial o campeão. A temática tem semelhança com o enredo campeão do Salgueiro de 2009, mas a escola tem sua identidade e vai aproveitar o bom momento para, com muita habilidade, cumprir a promessa de tremer as estruturas da Sapucaí. Firmar o ponto na gira e não deixar cair é o lema do Império da Tijuca. Em suma, o desafio do PRIMEIRO Império do samba é a luta para não ser o ÚLTIMO colocado.

GRANDE RIO - DE OLHO NO CAMPEONATO

Em 2013, a Grande Rio não se destacou, mas marcou sua presença no sábado das campeãs, com um manifesto em defesa da manutenção dos royalties do petróleo para o Rio de Janeiro, num desfile repleto de carros gigantescos, efeitos especiais e acrobacias técnicas. Já a Invocada fez paradas e simulou uma “avalanche” na avenida. Alegorias de bom gosto, como a iguana gigante, contrastaram com outros carros de gosto bastante duvidoso.

Já faz mais de 20 anos que a Grande Rio estreou no Grupo Especial. A escola sofreu um primeiro revés em sua estreia, mas desde que retornou, em 1993, recomeçou sua trajetória e já bateu na trave por três vezes. Altos e baixos marcam a história da tricolor da Baixada, tendo sido protagonista de um incêndio na Cidade do Samba, que a afastou da disputa no ano de 2011. O fato é que, tirando o ano em que não competiu, a escola de Caxias tem sido presença constante nos desfiles das campeãs.

Para 2014, a escola vai exaltar os 200 anos do município de Maricá e revela aos olhos de quem quiser ver que em seu desfile deixará o vento levá-la para novos caminhos. Direção e parte artísticas renovadas são as armas da escola de Duque de Caxias no trilho do progresso por um novo ideal. A despeito do dia e do horário de desfile, cedo para quem almeja o campeonato, a Grande Rio se inspira na cantora Maysa e promete fazer o couro comer em busca de sua inédita conquista. O que cair na rede pode ser a materializaram do milagre que vem de Maricá. 

SÃO CLEMENTE – CONTRA O PRECONCEITO E QUERENDO INCLUSÃO

A São Clemente levou a história das telenovelas da Rede Globo, mas o inusitado foi a emissora carioca ter boicotado o desfile. Além de não mandar suas principais estrelas, cortou o último setor para o Rio e a escola inteira pro Brasil. Mas, como diz o samba, os personagens são imortais e lá estavam Herculano Quintanilha, Viúva Porcina, Sinhozinho Malta, Odete Roitman, Tieta, Perpétua, Carminha, Gabriela, Escrava Isaura, Júlia Mattos, Dona Redonda, Açucena e Jenoíno, na comissão de frente.  No abre-alas, o diretor e produtor de TV Boni, na sua Fábrica dos Sonhos, deu o ar de sua graça. Em destaque, a Fiel bateria, vestida de Crô, personagem da novela Fina Estampa, que fez uma ousadas paradinhas, silenciando os instrumentos e deixando os componentes levarem o samba no gogó.

Em 2014, a São Clemente prepara mais um desfile na elite. Alguns ainda creditam à sorte a permanência da escola no Grupo Especial. Como resposta aos incrédulos, há dois anos, competindo com “todas” as coirmãs, a escola ficou à frente das duas últimas posições, sinal que a gangorra está pendendo finalmente para o lado do Orgulho da Zona Sul.

Em 2013, a escola volta a desfilar no domingo. A São Clemente resgata sua marca de desfiles de cunho social e, com réguas, esquadros, cores, tintas, pregos, panos, madeira e paetês, levará um panorâmico histórico das favelas. O enredo traz uma mensagem positiva exaltando a contribuição dos moradores da favela, especialmente nas artes e precisamente no samba. Para tanto, a escola de Botafogo também se renovou, o núcleo criativo continua, mas ganhou a participação pra lá de especial do consagrado Max Lopes, o “mago” que a escola encontrou em sua caminhada pela estrada de tijolos amarelos e pretos. Na busca da felicidade, toda contribuição é bem-vinda pra fazer a escola brilhar. Para mais essa conquista, a escola se prepara para vir linda na Passarela e sonhar com um novo amanhã. 

MANGUEIRA – ARROMBANDO A FESTA

A Mangueira mostrou as belezas, os costumes e a história de Cuiabá e achou uma forma de homenagear mestre Delegado na comissão de frente, um dos mais famosos mestre-salas do carnaval, que morreu em 2012 aos 90 anos. Partindo da Estação Primeira, a própria Mangueira, Cid Carvalho fez um de seus melhores trabalhos passando por estações imaginárias: “Eldorado”,  “Mitos e lendas”, “Arte e sabor”,  “Festa dos santos”, “Portal do paraíso”, para chegar no setor da sustentabilidade. O desfile poderia ter ficado marcado pela dupla bateria, que realmente estremeceu e cumpriu com o seu objetivo. Mas, o desfile é lembrado pela libélula que entrou para a história e tirou a escola do sábado das campeãs. Ela estava no carro do último setor, em homenagem a Copa do Mundo, emperrou na Torre de Tv e prejudicou a evolução da escola. A escola atrasou 6 minutos e perder 0,6 décimos.

Sob nova direção, um novo tempo nascerá para a supercampeã Mangueira. Sem ganhar desde 2002, há dois anos afastada do sábado das campeãs, a verde-e-rosa tenta superar as dívidas anunciadas pela mídia, levanta poeira e promete dar mais uma volta nas concorrentes. Conta a história que a Mangueira tem o compromisso de pelo menos colocar mais uma estrela no se pavilhão a cada década.

Para 2014, a escola que todo o mundo ao longe conhece, desce mais uma vez o morro para espalhar alegria de norte a sul deste país. O enredo, mais que propício, resume-se em festejar. Motivos é que não lhe faltam. A reformulação começou em casa, na quadra de ensaios. A escola promete entradas e bandeiras para desbravar as festanças nos quatro cantos do Brasil. Pois, segundo o enredo, desde a chegada de Cabral até em luta pela aceitação da diversidade, o povo brasileiro, feliz por natureza, faz festa. Nessa festança brasileira, a Mangueira deu um destaque especial para as festas nordestinas, que dá sorte à escola verde-e-rosa. De quebra, a festejada e tão esperada estreia da carnavalesca Rosa Magalhães. Além disso, Carlinhos de Jesus está de volta a agremiação, o que pode resgatar a fase de belas e ousadas comissões de frente da escola, que entraram para a história do carnaval. A festa da Mangueira promete só acabar na quarta-feira de cinzas. 

SALGUEIRO – UM ALERTA PARA TOCAR OS CORAÇÕES

Num enredo sobre celebridades, o Salgueiro fez um desfile luxuoso. Passou pelos personagens da antiguidade, colocado a escultura do faraó Tutankamon do Egito com óculos escuros; mostrou disfarces, com o belíssimo carro do baile de máscaras;  trouxe um atelier para abordar a importância dos retratistas; e, comemorou os seus 60 anos no último setor, com uma bela homenagem a Mestre Louro e Djalma Sabiá, o único fundador vivo da escola. Nem tudo foram flores, no entanto. Destoando da beleza plástica dos setores citados, a escola brincou com o mundo das cirurgias estéticas, com uma desnecessária "máquina lipoaspiradora", o carro do "Photoshopping", e, em referência à revista patrocinadora, trouxe uma ilha paradisíaca. Alfim, o Salgueiro fez fama, mas não deitou na cama. 

Presente constante no sábado das campeãs desde 2008, o Salgueiro, após o campeonato de 2009, esteve próxima de mais uma conquista em 2012, ocasião em que ficou com o vice-campeonato. No carnaval de 2011, a escola deixou escapar a briga direta pelo campeonato por erros cometidos pela própria no dia do desfile.

Em 2014, no entanto, a vermelha e branca gira esse cenário, pra ver nascer um novo dia, aquele em que vai buscar, na magia dos orixás, a chama da esperança para mais uma conquista. O enredo pode se resumir a uma exaltação à vida na Terra, a partir da conscientização de seus habitantes. Sustentada por um bom samba, que na sutileza dos seus versos, deve tocar os corações dos componentes e espectadores da Sapucaí, e, preservada pelo talentoso carnavalesco Renato Lage, em companhia com a esposa, Márcia, a escola promete riqueza, grandeza, tecnologia e aquela “purificada”, para encantar e dar literalmente um banho no Templo Sagrado do Carnaval. Dado o alerta, agora é cuidar de todos os quesitos, para na quarta-feira de cinzas o Salgueiro ter motivos para cantar e celebrar. 

BEIJA-FLOR – VEM AÍ MAIS UMA CAMPEÃ DE AUDIÊNCIA

A Beija-Flor exaltou a raça brasileira de cavalos, o manga-larga marchador. Logo na Comissão de Frente, um tripé gigantesco de um dragão, referência à história de São Jorge já mostrava que a escola vinha disposta a conquistar o seu espaço. O bom gosto continuou nas fantasias das primeiras alas e dos primeiros carros, como a alegoria que trouxe esculturas de homens primatas; o cavalo de Tróia,  que cuspia papel picado durante o desfile; o exército de terracota dos guerreiros de Xian, do Imperador Qin Shihuangda; o Portão de Ishtar, da Babilônia; e, o belíssimo carro dos ciganos, ladeado de leques, mostrando uma festa em um acampamento. A partir do carro da raça de cavalos portuguesa Alter Real, que significa “estrela que voa”, desenvolvida para servir à nobreza, o conjunto começou a ficar irregular. Uma bonita alegoria retratou a Belle Époque, com castiçais, vitrais, espelhos e escadarias, mas teve problemas de acoplamento na avenida e a escola encerrou o desfile com o carro de gosto duvidoso que trazia várias esculturas de cavalos da raça manga-larga, em meio a um chafariz. A escola não chegou a cair do cavalo, mas seu manga-larga não conseguiu chegar ao primeiro lugar do pódio.

Desde a criação da comissão de carnaval em 1998, cujos componentes vem sendo substituídos com o tempo, a escola de Nilópolis acumulou sete campeonatos e seis vice-campeonatos, garantindo sua presença em todos esses anos no sábado das campeãs.

Em 2014, não deve ser diferente. A Deusa da Passarela encerra mais um desfile no Grupo Especial. Em sua homenagem a Boni, procura se comunicar com público e jurados para que a festa volte a ser só sua. A escolha do enredo e do samba já deu babado na mídia. Aliás, tudo que gira em torno da Beija-flor dá muita audiência, já que é sempre a escola a ser batida no carnaval. Se por um lado Boni, o enredo, vai precisar se comunicar, do outro, os grandes nomes da escola, já comunicaram, pois são velhos conhecidos nossos. Neguinho, como sempre, é o astro que, quando solta a sua voz, passa a mensagem. O competente casal de mestre-sala e porta-bandeira, Claudinho e Selminha Sorriso, em sintonia, seja onde for, mais uma vez deve levar ao jurado escrever muitas notas dez no papel. Laíla, com a mesma frequência, é o sonhador responsável por conduzir a escola a reviver seus grandes desfiles. Um show de audiência e competência é o que se pode esperar da Beija-flor.