PRINCIPAL    EQUIPE    LIVRO DE VISITAS    LINKS    ARQUIVO DE ATUALIZAÇÕES    ARQUIVO DE COLUNAS    CONTATO

Coluna da Denise

PERSPECTIVAS PARA 2011

10 de janeiro de 2011, nº 39, ano IV

Não vou dar aqui uma de Pai Cláudio, mas acho interessante, sem influências, sem levar em consideração os ensaios técnicos e do desenrolar dos trabalhos nos barracões, fazer as perspectivas para o desfile das 12 escolas que disputarão o título de melhor em 2011. Por lógico, não se pode desprezar o histórico, o espaço atualmente conquistado por algumas escolas, mas o desfile acontece mesmo é na avenida.

TIJUCA SEM MEDO DE SER FELIZ

A sensação que a Tijuca me passa é que o campeonato deu uma coragem para a escola. A despeito de o enredo não dizer muita coisa, o que nos remete às surpresas que devem advir do desfile, o trunfo para a escola, talvez, seja mais uma vez impactar na avenida. Com investimentos, acrescidos da competência do carnavalesco Paulo Barros  e dos segmentos da escola que valorizam o seu chão, a escola da Tijuca tem tudo para tentar o bicampeonato. Entretanto acho que o grande empecilho para a vitória é justamente o enredo, pois ele, pelo menos para mim, não tem a mesma “magia” do segredo do ano de 2010.

A RECEITA DE SUCESSO DA GRANDE RIO

Uma das escolas que mais cresceu na última década, a Grande Rio pode ser considerada, das atuais grandes escolas do carnaval, a única que ainda não conquistou o título do grupo, a despeito de bater na trave por três vezes. Esse fator, por si só, já a apontada como uma forte candidata ao título em 2011, não só porque a fila anda, mas também pelo excelente dia e horário de desfile. O enredo, em si, não pode ser considerado, a princípio, o diferencial para a conquista, uma vez que enredos geográficos viraram uma constante nos desfiles de escolas de samba. Porém, a escola tem caprichado bastante nos aspectos plásticos e no último carnaval apresentou uma consistente evolução e harmonia que eleva qualquer desfile a patamares superiores. E tais ingredientes podem levar sim a escola ao inédito título.  

O REI E A DEUSA DA PASSARELA

O ano de 2011 é um grande desafio para a melhor escola da década que passou. A agremiação de Nilópolis terminou a década numa ótima colocação (3º lugar), mas com a sensação de perda. Isso porque o desfile sobre Brasília não convenceu, por mais que os segmentos da escola tenha se esforçado como de costume. A escola de Nilópolis é conhecida por sua superação, especialmente quando no ano anterior um desfile seu criticado. O enredo, aparentemente simples e despretensioso, pode ser o diferencial da escola para mais uma conquista. E como não era difícil de prever, a escola, no pré-carnaval, atraiu a atenção da mídia em razão do nome do homenageado – Roberto Carlos. Para quem gosta, como o Rei, de superstição, a Deusa da Passarela encerra a maratona de desfiles na Sapucaí em 2011, posição que lhe valeu três dos seus mais recentes títulos (2008, 2007 e 2005), sendo, por óbvio, uma séria candidata a voltar ao pódio maior dos desfiles.

VILA, SEM MODÉSTIA, EM BUSCA DA PERFEIÇÃO

A Vila Isabel tinha um dos melhores enredos de 2010 e não fez um desfile à altura, a despeito de lograr a 4º posição. A princípio patrocinada, a Vila para 2011 traz um enredo pra lá de questionável, mas com maestria foi driblando os inconvenientes do enredo, assim como fez a Grande Rio em 2010. As seguintes medidas podem ser encaradas como os grandes trunfos da escola: a) a busca no mercado a maior ganhadora de títulos do Sambódromo, a excelente contadora de histórias carnavalesca Rosa Magalhães, que deu brilho e sedução no tema escolhido pela escola – os cabelos, b) a feliz escolha do samba, c) a relação estreita com a mídia – o convite a beldades como Gisele Bündchen, Sabrina Sato, Quitéria Chagas, e quiçá do casal protagonista da minissérie Sansão e Dalila da Record, que poderá dar um colorido a mais ao desfile da escola. Lógico que tais fatores devem estar aliados a um bom investimento financeiro e valorização dos demais segmentos da escola que, sem modéstia, são cercados de talentos que prometem arrasar na avenida.

O CENÁRIO PERFEITO DO SALGUEIRO
 
O Salgueiro tem um dos melhores se não o melhor enredo do ano. Falar do cinema, valorizando o Rio de Janeiro como cenário, é uma sacada maravilhosa do excelente carnavalesco Renato Lage. Isso porque a década que se inicia pode ser considerada como uma virada de página para a cidade do Rio de Janeiro. A posição de desfile da escola Tijucana - segunda de segunda - é cercada de bons fluidos, é a mesma da última conquista, e a escola sabe bem do seu potencial para incendiar a avenida logo no início da abertura dos desfiles. Renato Lage dispensa maiores comentários. Mesmo em sua fase menos inspirada, produziu uma plasticidade de inquestionável valor. Se o Oscar vai parar nas mãos da Academia eu não sei, mas que a escola é uma das indicadas ao pódio, eu não tenho dúvidas.

O MENESTREL E A NAÇÃO MANGUEIRENSE

Uma das grandes contribuições da nova diretoria da Mangueira é o fato de a Mangueira voltar a ser Mangueira. Isso significa que a escola, a princípio, não se destaca pelos aspectos plásticos, mas esse fator passa a ser coadjuvante quando a comunidade veste a camisa e rasga o chão da avenida para defender sua bandeira. A Mangueira tem no seu histórico alguns títulos originados de homenagens a personalidades da música brasileira e para 2011, com o resgate de Nelson Cavaquinho, que tem tudo a ver com a agremiação, pode impulsionar a escola a ponto de surpreender a muitos que não acreditam no sucesso desse desfile. O samba escolhido pela escola, a princípio incompreendido, parece caber como luva para um desfile arrasador. No mais, é conferir.

NOVAS COLHEITAS PARA A MOCIDADE

A década que se encerrou pode ser considerada como uma provação para a Mocidade, que, bravamente, aos trancos e barrancos, conseguiu se manter firme na elite do carnaval, grupo a qual pertence desde 1959. Esperamos que na nova década a escola possa se encontrar a ponto de voltar a colher bons resultados na avenida. E o próximo desfile é de suma importância para que venha a se concretizar novas conquistas. Acredito que o enredo sobre agricultura e a escolha do samba, na minha opinião, não darão à Mocidade a chance de disputar títulos. Mas acredito que, no momento, essa conquista não é a mais importante para a escola. Mas seria muito bom se Padre Miguel conseguisse almejar uma posição no sábado das campeãs, para, no decorrer da década, tentar conquistas mais consistentes.

A PRESCRIÇÃO DA IMPERATRIZ

A Imperatriz talvez tenha sido a escola que mais decaiu no decorrer da primeira década dos anos 2000, especialmente se compararmos com a década de 90, em que a escola praticamente a dominou. Mas carnaval é assim mesmo, vive-se de ciclos e a Imperatriz vai ter de buscar um novo caminho na próxima década. A escola ainda aposta na linha traçada pelos carnavalescos consagrados na história do carnaval, por isso confiou para 2011 mais um carnaval ao excelente Max Lopes. O enredo e o horário de desfile não são dos melhores, mas o samba é bom. Tudo vai depender da abordagem a ser dada pelo carnavalesco na avenida. Como o desfile é comparativo e leva em conta uma série de fatores, além dos quesitos, acho pouco provável a luta pelo título.

PORTELA NA IMENSIDÃO DO MAR

A Portela tem apresentado certa irregularidade em sua trajetória recente. Quando se pensava que a escola, após a presença em dois anos consecutivos no sábado das campeãs, fosse aspirar pelo sonhado título, há muito não conquistado, a escola apresentou um desfile muito aquém de suas possibilidades em 2010 e não vamos aqui nem colocar a culpa no inusitado enredo, pois o que não falta no carnaval são enredos ruins se transformarem em bons desfiles. Por isso, é muito difícil fazer qualquer prognóstico para a escola de Madureira. Mas tenho sentido, assim como senti com a Tijuca em 2010, um clima muito bom para a Portela, a despeito das críticas, a meu ver, infundadas ao samba-enredo escolhido para 2011. A contratação do competente carnavalesco Szaniechi, a ótima posição no desfile – terceira de segunda, a intimidade da escola com enredos marítimos e tendo o Rio de Janeiro como pano de fundo me leva a acreditar muito na escola que, assim como a Grande Rio, está esperando sua vez para colocar a mão na taça. E não descarto a possibilidade de isso vir a acontecer em 2011.

SONHAR NÃO CUSTA NADA, OU QUASE NADA, PARA O PORTO DA PEDRA

O início de uma década mexeu com os brios dos dirigentes da Porto da Pedra, que após ver sua vizinha Unidos do Viradouro despencar pro Grupo de Acesso, resolveu deixar de ser a escola “bola da vez”, como o foi durante toda a primeira década de 2010, A escola promoveu mudanças internas, estreitou relações com a Prefeitura de São Gonçalo, de onde provém, não negociou sua posição de desfile – a despeito de não ter intimidade de ser uma das últimas a desfilar - e manteve o bom carnavalesco Paulo Menezes, que se  inspirou mais uma vez em Maria Clara Machado para dar a Porto da Pedra a oportunidade de sonhar com o impossível – um título no carnaval carioca. Se depender do samba, do enredo e da vontade da comunidade, acredito que a escola possa fazer um bom desfile e galgar posições melhores, afinal como dizia um samba da co-irmã Mocidade, sonhar não custa nada... A escola só tem de tomar cuidado com o excesso de otimismo. Muita pretensão, por vezes, é má compreendida e pode dar muita dor de cabeça, ainda mais para uma escola que vem exprimida entre duas sérias postulantes ao título – Grande Rio e Beija-flor.

A CELEBRAÇÃO DA ILHA

A Ilha tem mesmo que celebrar, afinal quer deixar para trás a péssima fase vivenciada na década que se encerrou. A escola sabe, entretanto, que ainda é preciso muito trabalho para consolidar sua permanência no Grupo Especial. A escola parte para mais essa aventura, agora sob o enfoque do bom carnavalesco Alex de Souza, que explora a evolução das espécies humanas, inspirada na obra de Charles Darwin. Ser a primeira escola de segunda-feira não é de todo ruim, especialmente para quem abriu o desfile de domingo em 2010 e conseguiu o feito de ficar no grupo. Considerando que a escola encontra-se numa fase de estruturação, é pouco provável a briga pelo título. Acredito que o objetivo da escola é manter-se numa posição intermediária para brevemente tentar beliscar uma vaga no sábado das campeãs.

O RIO DA SÃO CLEMENTE MARAVILHADA

Como falar de nossa escola do coração sem ser parcial? Difícil. Como difícil é a missão da São Clemente em 2011. Como algumas escolas do grupo, a escola da Zona Sul quer deixar estigmas para trás, um deles o histórico de ser a escola ioiô, que se alterna entre o grupo especial e de acesso. Como disse em relação ao Salgueiro, a década que se inicia é promissora para o Rio de Janeiro (Copa do Mundo, Olimpíada, pré-sal, volta do Rock in Rio e investimentos nas áreas de pesquisa, cultura e tecnologia). Assim como a Cidade homenageada, a São Clemente também tem um grande desafio nessa década. Então infundadas as críticas que consideram o enredo da escola uma mesmice, pelo contrário, se o Rio de Janeiro está novamente em voga, internacionalmente, na década que se inicia, mais que necessário o desfile que explore suas paisagens. Fábio Ricardo, um revelação em termos de concepção de desfile, e Igor Sorriso, outra revelação na condução de samba-enredos, constituem a renovação pela quais as escolas devem passar. Por isso, por que não dar crédito ao novo, a uma nova fase da São Clemente? Resta saber se a cidade mostrada no desfile da escola vai convencer público e jurados. Se a empatia acontecer, e, acredito que aconteça, a nova década pode reservar mais surpresas para o Grupo Especial, enterrando de vez a década de desfiles de resultados previsíveis.