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Coluna da Denise

MARCAS DO QUE SE FOI

10 de dezembro de 2009, nº 29, ano II

2009 está chegando ao fim. Aproveitamos esse momento para relembrar os fatos marcantes do último carnaval, que contou com a presença ilustre do presidente Lula, mais popular que nunca.

Ao lado de Lula, os anfitriões Governador Sérgio Cabral e o Prefeito Eduardo Paes assistiam de camarote os desfiles, inclusive o casamento de Neguinho da Beija-flor, que, após a retirada de um tumor maligno, embalou mais uma vez a sua Beija-flor, cantando o samba do enredo sobre as origens históricas do banho.

A escola de Nilópolis prometia dar um banho na avenida, mas foi superada pelo ressoar do tambor do Salgueiro, que ao girar a roda dos desfiles, colocou novamente a escola tijucana no topo, após 15 carnavais. Se o campeonato do Salgueiro não “explodiu corações”, em face dos novos tempos, serviu para oxigenar o grupo especial e recolocar o competente Renato Lage no lugar que merece.

Se não superou o Salgueiro, a água do banho da Beija-flor causou literalmente a derrapagem da Unidos da Tijuca, escola que desde 2004 vinha garantindo sua vaga no sábado das campeãs. Além de ter de patinar na Sapucaí, a Tijuca sentiu o peso de encerrar a primeira noite de desfiles. A escola do Borel mostrou a influência do céu na mente das pessoas, mas a criatividade, tão presentes nos desfiles da escola, passou despercebida. Estavam assim abertas as portas para que Paulo Barros voltasse para a agremiação, confirmado após o desligamento de Luis Carlos Bruno.

Aliás, Paulo Barros, dispensado pela Viradouro, deu o ar de sua graça no Grupo de Acesso e levou a novata Renascer de Jacarepaguá ao vice-campeonato do primeiro desfile organizado pela Lesga.

Se na Renascer, Paulo Barros abordou os transportes, no Especial ele pegou carona no enredo desenvolvido pelo Alex Sousa para a Vila Isabel. Esse casamento deu certo e a Vila uniu a beleza plástica do enredo clássico sobre os cem anos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro com a moderna fórmula de Paulo Barros. Pena que o encontro não deu frutos na avenida.

Por falar em frutos, a Mangueira tentava abafar a crise com um enredo inspirado nos estudos do antropólogo Darcy Ribeiro sobre a formação do povo brasileiro. Foi preciso muita garra dos componentes para aliviar a parte estética (alegorias incompletas e mal acabadas). Surpreendentemente a escola conseguiu voltar no desfile das campeãs.

Melhor sorte, entretanto, não teve a Imperatriz Leopoldinense, cujo enredo comemorativo do seu cinquentenário, ficou de fora do sábado das campeãs. Sensação dos ensaios técnicos, a escola de Ramos deixou escapar no dia do desfile oficial o favoritismo, o que redundou no fim do duradouro casamento existente entre a escola e a carnavalesca Rosa Magalhães.

Sorte da União da Ilha, que contratou a ex-carnavalesca da Imperatriz, após se sagrar vencedora do grupo de Acesso. A viagem de volta para casa da escola insulana durou exatos 8 carnavais. Mas, inspirada em Julio Verne, a União da Ilha atravessou o mar e aterrissou na quarta-feira de cinzas no topo dos desfiles do grupo de acesso, abrindo-se assim a possibilidade de se mudar de malas e bagagens para a Cidade do Samba.

Aliás, excetuando o campeonato da Ilha, a estreia da Lesga não poderia ter sido pior. Após muita promessa, o carnaval do grupo continuou a ser televisionado pela inexpressiva CNT. Ademais, o atraso nos desfiles, a briga desnecessária com a Associação em relação ao acesso de escolas (que no final das contas confirmou a presença de Cubango e Unidos de Padre Miguel, campeãs do Grupo Rio de Janeiro I da Associação) e a virada de mesa para não rebaixar nenhuma escola fundadora, deixou no ar uma insatisfação generalizada.

Insatisfação experimentada principalmente pela Estácio de Sá, que falando da chita, fez um desfile que a credenciava a estar entre as escolas do Grupo Especial em 2010. Não deu.

Surpresa mesmo foi a colocação da tradicionalíssima Caprichosos de Pilares. O desfile sob forte sol e calor sobre os transportes deu a escola o último lugar do desfile, nem mesmo superado pelo péssimo desfile da Inocentes de Belford Roxo, que apresentou uma sucessão de problemas na homenagem ao ex-governador Leonel Brizola.

Os problemas de atraso dos desfiles, entretanto, começaram na concentração da São Clemente, extremamente prejudicada pela palhaçada de não liberar espaço para armação da escola, que desenvolveu o inédito enredo sobre o primeiro palhaço negro, Benjamin de Oliveira.

Ainda no grupo, a Rocinha trouxe, como de costume, muito luxo, mas voltou a apresentar problemas de evolução. Mesmo mal sofrido pelo Paraíso do Tuiuti, que levou o Cassino da Urca para a Sapucaí.

Já o Império da Tijuca, com a reedição do samba-enredo sobre a vida e a obra de Mestre Vitalino, e a Santa Cruz, com a importância da preservação da natureza, fizeram desfiles mornos e cansativos, muito aquém de suas reais possibilidades.

Fica aqui a esperança para que a Lesga corrija esses problemas. Isso porque em 2010, a Lesga terá a honra de administrar o desfile do grandioso Império Serrano, que mesmo com um show da bateria, na reedição do tema sobre a lenda das sereias, acabou rebaixada do grupo especial. O Império engrossou a infeliz estatística das escolas que sobem de grupo e abrem o carnaval do Grupo Especial.

Sorte da Mocidade Independente que a Liesa só rebaixa uma escola, pois o elogiável enredo sobre a vida e a obras de Machado de Assis e Guimarães Rosa rendeu um desfile pífio para escola de Padre Miguel.

Já a Portela e a Grande Rio confirmaram a boa fase com os jurados e conquistaram mais uma vez vagas para o sábado das campeãs. Enquanto a escola de Oswaldo Cruz apresentou o abstrato enredo sobre o amor, a escola de Duque de Caxias comemorou o ano da França no Brasil.

O mesmo não pode ser dito das escolas do outro lado da Baía de Guanabara. O Porto da Pedra abriu a segunda noite de desfiles falando sobre a curiosidade, e mais uma vez teve problemas de evolução e com alegorias, mas conseguiu se sustentar por mais um ano no grupo especial (haja acomodação). Já a Viradouro fechou o desfile do Grupo Especial, com o confuso enredo que misturava biocombustível com os orixás da Bahia, ficando mais um ano de fora do sábado das campeãs.

Na Intendente, os desfiles organizados pela guerreira Associação das Escolas de Samba, palco de grandes escolas (Unidos da Ponte, Unidos do Cabuçu, Em Cima da Hora, dentre outras) um misto de alegria e tristeza. Alegria por ver os Acadêmicos do Engenho da Rainha conquistar um campeonato e se aproximar da Sapucaí e tristeza em ver a tradicionalíssima Unidos de Lucas descer a ladeira dos grupos e se afastar cada vez mais da Sapucaí, palco da elite das escolas da Associação.

Por falar no Grupo Rio de Janeiro I, além do já mencionado empate das ascendentes Cubango e Unidos de Padre Miguel, legítimas campeãs, o carnaval de 2009, por tabela da virada de mesa da Lesga, acabou por imprimir um enxugamento das escolas do grupo. Assim, vislumbra-se para 2010 um desfile alegre, sereno, sossegado e tradicional, afinal é preciso uma arrancada de todas as filiadas para a disputada vaga à LESGA, caso contrário, se vacilar, o jacaré abraça.

Por fim, cabe registrar que a promessa da Prefeitura em licitar a organização do carnaval para 2010 foi adiado para o carnaval 2011. O edital da licitação chegou a ser publicado, mas, no fim, não havia tempo hábil para sanar as impugnações apresentadas pelas concorrentes. Há, ainda, que destacar para os próximos carnavais o cumprimento da promessa para a construção do Condomínio do Samba. Aliás, a Cidade do Samba está precisando de um puxadinho, para abrigar, no mínimo, as tradicionais escolas que valorizam o desfile da LESGA e, por vezes, ofuscam algumas escolas acomodadamente “especiais”.

Ops....Mas isso é perspectiva. Fica para o ano que vem, para a próxima coluna. Por agora,  é agradecer a companhia e desejar bons ensaios técnicos, boas festas e um feliz 2010.


denisefatima@gmail.com