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Coluna da Denise

ALEGRIA EM NOME DA RAINHA E FOLIA EM NOME DE REIS

24 de novembro de 2008, nº 17, ano I

Que Rei sou eu?
Sem reinado e sem coroa

Após a divulgação da gravação oficial dos hinos das escolas de samba para o carnaval 2009 e da polêmica das críticas dos julgadores escolhidos pelos sites especializados, só uma verdade é absoluta, “o que está escolhido não tem mais volta” e aí só no dia do desfile para desvendar os mistérios desses sambas: se serão motivo de orgulho e imortalizados no palco do carnaval, se a estrela continuará adormecida ou se lavará a alma na avenida, se o céu será de brigadeiro e a curiosidade será satisfeita, se emanará alegria e vai dar o que falar, se vai fazer pulsar o coração, por ter a cara do povão ou se é do baiano doido, se vai despertar encanto e sorrisos por onde passar, com uma simplicidade sem igual, se contará com a força da comunidade, dando um alerta à humanidade pra fazer a alegria dessa gente, se não será igual ao ano que passou e vai chegar a algum lugar, encurtando distância, dando a volta por cima ou descendo de ladeira abaixo.

O samba é minha nobreza!
Afinal que rei sou eu!

O certo é que nem só de (bom) samba se vive o carnaval. Foi-se o tempo. A revolução estética implantada pelo Salgueiro na década 60, pelo “rei” do barroco e do rococó Arlindo Rodrigues e sua equipe, capetaneados por Fernando Pamplona, não foi apenas responsável pela mudança de abordagem do enredo ou da profissionalização dos carnavalescos, foi um marco divisório no carnaval carioca, cuja estética foi cada vez mais tomando para si a atração da festa nas décadas que sucederam.

E aproveitando esse espaço, Joãosinho Trinta, o rei Midas das escolas de samba, assumiu o trono e transformou o carnaval carioca na oitava maravilha do mundo, principalmente quando de sua passagem pela Beija-flor de Nilópolis.  Quebrando tabus, com luxo e originalidade, alegorias verticalizadas, ele se fez Rei da França, Rei Salomão, Rei da Saturnália, Rei do Luxo e do Lixo. Joãosinho Trinta nos conduziu a maravilhosas viagens por meio dos seus enredos, e em na mitológica criação de seu mundo, desvendou-nos o big-bang do carnaval carioca, mostrando-nos que assim como o mundo, o carnaval carioca também está em constante rotação, abrindo e fechando ciclos.

Mas o longo reinado de João no carnaval carioca não foi empecilho para que novos reis se somassem e passassem a ser também, por algum momento, o rei dessa gente tão modesta e o dono desta nossa festa.

Fernando Pinto, o rei da Tropicália Maravilha, brilhou especialmente na independente, nacionalista e futurista Mocidade de Castor, sucedendo o requinte do rei Arlindo Rodrigues, e, anos mais tarde, deixando como sucessor, o Rei do high-tech, Renato Lage, responsável por mais uma virada de página na história do carnaval carioca.

E nossa folia também viu o mago das cores se tornar rei, imortal, não importando aqui se seu estilo cigano o fez perambular pelos lados da Ilha, Mangueira, Vila, Imperatriz, Grande Rio ou Viradouro. Max Lopes, em todas elas, deixou sua marca registrada, e, coincidente ou não, ele foi o responsável pelo crescimento de todas as agremiações citadas, que estavam em crise ou não tinham ainda sido consagradas, com seus desfiles grandiosos e requintados.

O que dizer então do incrível, fantástico e extraordinário Viriato Ferreira? Que durante muito tempo teve a humildade de estar à sombra de um grande profissional.

E no meio de tantos reis, surgiu uma rainha. Durante o seu reinado, Rosa Magalhães, depois de breve passagem pelo Império Serrano, Estácio de Sá e Salgueiro, eternizou seu casamento com a Imperatriz, de Luizinho, virando o símbolo da perfeição e dedicação, materializadas pelas belas alegorias, teatralizadas e minuciosamente decoradas, e pelos enredos históricos, altamente bem desenvolvidos.

Que rei sou eu, se tenho generosidade?
Que rei sou eu, com fé e com honestidade?
Se desconheço autoridade sem vaidade, que rei sou eu?
Eu só sou rei porque o rei de lá morreu

Na atual década do carnaval carioca, entretanto, não surgiu nenhum grande nome para se juntar aos reis e rainhas aqui citados.

Uma das grandes novidades da década veio da Unidos da Tijuca. Paulo Barros, que prometia escrever uma nova página do carnaval carioca. Mas o que se viu é que o seu estilo se desgastou passados pouco mais de três carnavais. E ele acabou sendo vítima de sua própria criação, uma vez que a expectativa pelo “novo” no público e na crítica especializada, lhe obrigou a tentar vôos (aqui nenhum trocadilho com sua condição de ex-comissário de bordo) ainda mais ousados, que o levaram ao distanciamento temerário da fórmula tradicional e consagrada de se fazer carnaval.

Talvez o nosso carnaval tenha entrado em um novo ciclo, uma revolução às avessas comandada pela classe dominante, os dirigentes do carnaval carioca, que impuseram uma nova “lei” e extirparam a sucessão de novos reis ou rainhas àqueles eternizados em nossa histórica carnavalesca recente. Ou será que o desgaste prematuro de novas fórmulas ou reinvenções das antigas serão sempre destinadas ao descarte, nessa nova era globalizante?

Se é da terra que fique na areia
O mar bravo só respeita rei!


denisefatima@gmail.com