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Coluna do Cláudio Carvalho

FOLIA FLUMINENSE - O CARNAVAL EM NITERÓI E SÃO GONÇALO

Fim de ano chegando, escolas de samba encerrando seus preparativos para o desfile, quadras cada vez mais cheias, e eis que eu me pego escrevendo uma coluna sobre o carnaval de... Niterói! Isso mesmo, Niterói! Peraí, mas o carnaval das terras de Araribóia não acabou? Sim, mas justamente por isso acho justo usar de minha condição de colunista para preencher essa lacuna na história do samba falando sobre os desfiles na cidade fluminense. Desfiles que foram, durante muito tempo, uns dos mais concorridos do Brasil, contando com a participação de Mano Décio da Viola (fazendo parte da comissão julgadora), Jorginho do Império (ainda garoto) e Elza Soares (soltando o gogó pela Cubango). No Rio, em 1982, após a derrota da sua Beija–Flor, Anízio anunciou que a escola desfilaria em Niterói no ano seguinte. Já pensou se isso tivesse acontecido? Foram desfiles que marcaram época e deixaram saudades quando chegaram ao fim, após Cubango e Viradouro atravessarem a Ponte rumo ao Rio de Janeiro.

E já que falamos nas duas grandes escolas da cidade,vamos a elas então, a começar pela vermelho e branco: pra quem não sabe, a Unidos do Viradouro, de 24.06.1946, no bairro de mesmo nome, não nasceu com essas cores. Antes sim, usava azul e rosa (tal qual a União de Vaz Lobo), cores do manto de N.S. Auxiliadora, padroeira da escola, juntamente com São João, que também é padroeiro da ‘’Cidade Jóia’’, como Niterói também é conhecida. Ao contrário do que muita gente pensa, a Viradouro é a recordista de títulos no município, e parte disso se explica pelo fato de a Cubango só ter surgido 7 anos depois. A outra parte pode ser atribuída ao GRES Portela, sua madrinha,que durante muito tempo lhe forneceu apoio financeiro, material (instrumento de percussão, alegorias de mão, etc) e humano. Clara Nunes, em seus tempos áureos, sambava até de manhã na antiga quadra do morro e Mestre Marçal foi um dos precursores no trabalho para que a bateria da escola atingisse os níveis atuais. Hoje, muito pouco se fala a esse respeito em Niterói, mas o fato é que boa parte dos que hoje se dizem viradourenses torciam para a Portela até 91. Vale lembrar que a escola de Natal fazia ensaios do outro lado da Baia, o que fez com que sua torcida aumentasse muito por lá. A história da Viradouro após sua estréia no carnaval carioca já é conhecida por todos (e para muitos, infelizmente, parece ser a única que conta). Não cabe a mim, portanto, repeti–la.

Falemos então, da Cubango, que conforme diz em seu lema ‘’Não é a maior nem a melhor, é a do povo’’. Cubango que nasceu em 17.12.1953, dia de São Lázaro, seu padroeiro. Cubango, que conforme ‘’reza a lenda’’, foi a escola escolhida para ser uma das grandes do carnaval carioca, papel que hoje cabe a Viradouro. Os motivos que teriam levado seus componentes a não aceitarem a proposta até hoje são pouco conhecidos, mas existem muitas especulações a respeito. Uns dizem que eles não queriam ter ligação com o jogo do bicho, outros dizem que não queriam uma mudança tão radical nos rumos da escola, sempre voltada para sua comunidade, localizada nos bairros de Cubango, Viçoso Jardim, Morro do Abacaxi, Serrão, dentre outras localidades.

Pouca gente sabe, mas, no início, a agremiação tinha uma forte ligação com a Mocidade Independente, na qual desfilavam vários foliões vindos de Niterói, chegando por vezes a formar alas inteiras!

É impossível falar de Cubango sem citar Heraldo Faria e Flavinho Machado, dupla responsável por hinos antológicos da verde e branco, tais como: "Afoxé" (79 - Heraldo Faria e João Belém), "Esse nosso mundo mágico" (80), ‘’Fruto do amor proibido’’ (81), "Por que Oxalá usa Ekodidé" (84), "Ave Bahia Cheia de Graça" (88), dentre outros. Dupla que, dentre outras proezas, também carrega a de ter sido autora de dois belos sambas da Mangueira: ‘’As mil e uma noites cariocas’’ e ‘’Verde que te quero rosa’’, interpretados pelo próprio Flavinho Machado nos LP’s de 82 e 83, respectivamente. Flavinho, por sinal, foi o vencedor da disputa de samba promovida pela escola esse ano. Essa disputa, diga–se de passagem, contou com a participação de Diego Nicolau e outros camaradas meus de Espaço Aberto, finalistas.

Vamos então àquilo que é nossa especialidade, os sambas–enredo. Em meu acervo particular, tenho quase todos os LP’s do carnaval de Niterói, exceto os de 80 e 95. Ao que me consta, o primeiro LP foi editado em 1974, e traz uma belíssima foto da Praia de Icaraí. Na safra, o bom "Pleito da vassalagem de Olorum’’, da Viradouro. Depois disso, só em 79 foi lançado outro disco (uma pena, pois muitos hinos passaram em branco), que traz o antológico ‘’Afoxé’’, já citado anteriormente. Em 81, além do samba da Cubango, temos o belo ‘’Amor em tom maior" da Viradouro, interpretado por Silvinho do Pandeiro, durante anos o intérprete da escola. Outros grandes interpretes também marcam presença nesse LP, como Dominguinhos do Estácio no Branco no Samba, de Icaraí, e Aroldo Melodia no Camisolão, de São Gonçalo. Esse fato, aliás, era comum (o próprio Aroldo também foi puxador da Combinado do Amor e da Viradouro, e Rico Medeiros já fez parte dos quadros da Boêmios da Madama). O disco de 82 traz o belo ‘’Motou muido Kitoko’’ da campeã Viradouro. O de 83 é relativamente comum de se encontrar, mas não é dos melhores. Bom mesmo é o de 84, que traz vários sambas ‘’carregados’’, como ‘’O sonho de Ilê Ifé’’, da Viradouro e ‘’Beija Mel canta os orixás’’, do Camisolão. Daí em diante, as safras decaem consideravelmente, até porque o LP de 86 já não conta com a Cubango e o de 87 não traz nem a verde e branco nem a Viradouro. Após esse período, um novo hiato, que só acabaria em 1992, num disco abrilhantado pelo samba da Cubango (‘’Negro que te quero negro’’). O "canto do cisne" foi uma fita gravada em 1995, desconhecida por muitos e por isso mesmo raríssima.

Enfim, uma época que quem viveu não esquece. Muitas das escolas que ajudaram a construir essa história já enrolaram bandeira. Outras atravessaram a Baía e não foram tão bem sucedidas, como a Acadêmicos do Sossego (dos meus amigos Dudu Botelho e Thiago Lepletier) e há ainda as que desfilam no carnaval de São Gonçalo, como é o caso da Souza Soares. O carnaval, na Av. Pres. Kennedy, é dividido em dois grupos, sendo o desfile principal realizado na terça–feira. A campeoníssima do município não é a Porto da Pedra, mas sim a Unidos do Sacramento, que esse ano vai desfilar no Grupo C do carnaval carioca, no lugar da Foliões de Botafogo, fato que gerou muita polêmica no mundo do samba.

Para encerrar, quero dizer que, ao final dessa coluna, espero ter contribuído com novas informações para o leitor, afinal, quem é sambista quer saber mais é de folia, seja em Niterói, São Gonçalo, Maricá, Campos dos Goitacazes, Três Rios ou na Conchinchina, né não? Boas festas a todos e até o ano que vem!

Cláudio Portela

claudioarnoldi@ig.com.br