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Coluna do Cláudio Carvalho

OS MAIORES SAMBAS ENREDO DE TODOS OS TEMPOS DA ÚLTIMA SEMANA

3 de junho de 2015, nº 37, ano XII

Em homenagem aos 11 anos do Sambario, do qual participo desde sua fundação, resolvi elaborar uma listagem com 100 sambas-enredo, não necessariamente os mais bonitos, mas também aqueles que, de certa forma, ajudaram a caracterizar o gênero e/ou tiveram influência direta na história do próprio samba. Neste texto, falarei dos primeiros 50, em ordem cronológica, para completar a lista na próxima coluna. Ei-los:

1. O Mundo do samba (Unidos da Tijuca, 1933): Tido oficialmente pela imprensa escrita e falada como “o primeiro samba de acordo com o enredo”, conforme relatado por Sérgio Cabral em seu livro “As escolas de samba do Rio de Janeiro”, este samba não difere muito dos demais sambas de terreiro da época em letra e melodia, mas tornou-se histórico pela divulgação em torno de si.

2. Teste ao samba (Portela, 1939): Para muitos, este sim, o primeiro samba-enredo, uma vez que serviu de trilha sonora para um desfile onde a escola se apresentou  fantasiada e havia até mesmo um quadro negro como alegoria.

3. Conferência de São Francisco (Prazer da Serrinha, 1947): Samba que não chegou a ser cantado no desfile, o que serviu de motivação para a criação do Império Serrano, dissidência da antiga escola, meses depois.

4. Exaltação a Tiradentes (Império Serrano, 1949): Primeiro samba a ser gravado oficialmente, ainda que de forma tardia e apenas com o nome do homenageado constando no título.

5. Benfeitores do Universo (Cartolinhas de Caxias, 1953): Samba histórico de uma das escolas que deram origem à Acadêmicos do Grande Rio, gravado por Martinho da Vila e Zélia Duncan, anos depois.

6. Amazônia - Inferno Verde (Filhos do Deserto, 1956): Um dos primeiros sambas a descrever a então inóspita selva amazônica, com o qual a escola de Lins de Vasconcelos, que se fundiu à Flor do Lins para fundar a Lins Imperial, desceu no ano de 1956.

7. O grande presidente (Mangueira, 1956): Talvez o mais belo e conhecido samba a retratar uma das figuras mais controversas da história brasileira: Getúlio Dornelles Vargas.

8. Legados de Dom João VI (Portela, 1957): Um dos mais belos sambas da história da Portela, que retrata de forma fidedigna a vida de uma das figuras mais importantes do Brasil colonial.

9. Machado de Assis (Aprendizes da Boca do Mato, 1959): Samba composto por Martinho da Vila, então Martinho José Ferreira, para a escola da Serra dos Pretos Forros, de onde o compositor saiu para fazer fama na Unidos de Vila Isabel tempos depois.

10. Quilombo dos Palmares (Salgueiro, 1960): Marco na história dos desfiles, por retratar pela primeira vez um herói que não constava na história oficial, este samba ajudou o Salgueiro a ganhar seu primeiro campeonato, ao lado de Portela, Mangueira, Império Serrano e Unidos da Capela.

11. Seca no Nordeste (Tupy de Brás de Pina, 1961): Samba que se tornou histórico na voz do mestre Jamelão, e ajudou a tornar famosa a até então pouco conhecida escola do grupo de acesso. Tido por muitos como o mais belo de todos os tempos.

12. O dia do fico (Beija-Flor, 1962): Samba da então incipiente Beija-Flor, que ainda não flertava com a ditadura militar, nem sonhava em ser a potência que se tornou a partir da década seguinte. Foi gravado por Martinho da Vila e na obra “A história do Brasil através do samba-enredo”.

13. Xica da Silva (Salgueiro, 1963): Mais um samba que exaltava a negritude. Mais um campeonato.

14. Chico Rei (Salgueiro, 1964): Outro samba do Salgueiro que subvertia a história oficial.

15. Aquarela Brasileira (Imperio Serrano, 1964): Considerado o hino dos sambas-enredo, catapultou Silas de Oliveira, tido como o maior compositor do gênero em todos os tempos, para o sucesso. Teve várias regravações e foi reeditado pelo Império Serrano em 2004, quarenta anos depois.

16. Os cinco bailes da história do Rio (Imperio Serrano, 1965): Outro grande êxito de Silas, ao lado de Mano Décio da Viola, Bacalhau e Dona Ivone Lara, oficialmente, a primeira mulher a compor um samba.

17. O mundo encantado de Monteiro Lobato (Mangueira, 1967): O sucesso deste samba impulsionou a gravação do primeiro LP de sambas enredo, no ano seguinte.

18. Sublime Pergaminho (Unidos de Lucas, 1968): Top-10 em qualquer lista de sambas-enredo, esta obra de escola de Parada de Lucas, fruto da fusão entre Unidos da Capela e Aprendizes de Lucas, parecia ser o prenúncio do surgimento de uma gigante do carnaval carioca, fato que não se confirmou.

19. Quatro séculos de modas e costumes (Vila Isabel, 1968): Um dos primeiros sucessos de Martinho na Vila Isabel, conquistado após grande disputa interna no concurso de sambas-enredo da escola.

20. Heróis da Liberdade (Império Serrano, 1969): Outro triunfo de Silas de Oliveira, que chegou a sofrer censura do regime militar, devido à suposta apologia revolucionária contida na letra.

21. Bahia de todos os deuses (Salgueiro, 1969): Um dos primeiros sambas a falar do berço do Brasil, destoou dos demais pelo tom mais irreverente e menos ufanista.

22. Brasil, flor amorosa de três raças (Imperatriz, 1969): Uma das mais belas obras da escola de Ramos, quando ela ainda buscava seu lugar ao sol dentre as grandes agremiações.

23. Yayá do Cais Dourado (Vila Isabel, 1969): Martinho, outra vez, fazendo história.

24. Lendas e mistérios da Amazônia (Portela, 1970): Grande samba da azul e branca de Oswaldo Cruz e Madureira, que lhe rendeu o último campeonato sem divisão com outra coirmã. Foi reeditado pela escola em 2004.

25. Misticismo da África ao Brasil (Império da Tijuca, 1971): Samba de Marinho da Muda e parceiros para a escola do Morro da Formiga, que tornou-se famoso na voz de Clara Nunes tempos depois.

26. Festa para um rei negro (Salgueiro,1971): Samba de Zuzuca, responsável direto pela implementação de um novo modelo de compor,  baseado sobretudo no refrão e no fraseado solto e descompromissado, em lugar ao chamado “samba lençol”, que cobria todo o enredo.

27. Martim Cererê (Imperatriz, 1972): Primeiro samba a fazer parte da trilha sonora de uma novela, “Bandeira Dois”, da Rede Globo de Televisão.

28. Alo, Alô, Tai: Carmem Miranda! (Império Serrano ,1972): Samba que deu à escola da Serrinha seu oitavo título, mas foi responsável direto pelo afastamento de Silas de Oliveira da agremiação. Derrotado na disputa interna por acachapantes 6x0, o “viga mestre” viria a falecer meses depois, vítima de um infarto fulminante, quando se apresentava numa roda de samba em Botafogo.

29. Ilu Ayê – Terra da Vida (Portela, 1972): Um dos raros sambas da Portela com temática afro, a despeito da agremiação sempre apresentar belas obras quando versa em torno deste enredo.

30. Nossa madrinha, Mangueira querida (Salgueiro, 1972): Outro samba de Zuzuca, a esta altura já consagrado na escola. Fruto de uma polêmica homenagem do Salgueiro à Mangueira, supostamente, uma disputa entre carnavalescos das duas agremiações.

31. O saber poético da literatura de cordel (Em Cima da Hora, 1973): Samba de Baianinho, um dos maiores compositores da escola. Revelou outro expoente, o saudoso Ney Vianna, que viria a fazer sucesso posteriormente na Mocidade. Até hoje, Jorge Benjor canta o samba-enredo em seus shows.

32. O rei de França na Ilha da Assombração (Salgueiro, 1974): Samba que serviu de trilha para o primeiro desfile assinado por Joãosinho Trinta no Salgueiro, com o carnavalesco se sagrando campeão logo na estreia. Esta história foi retratada de forma brilhante no filme “Trinta”, de 2014.

33. A Festa do Divino (Mocidade, 1974): Grande samba-enredo da então emergente escola de Padre Miguel, que retratou uma das festas mais tradicionais do folclore brasileiro.

34. A festa do Círio de Nazaré (Unidos de São Carlos, 1975): Samba imortal da atual Estácio de Sá, herdeira da Deixa Falar, primeira escola de samba do Brasil. Foi reeditado de forma polêmica pela Unidos do Viradouro em 2004.

35. Sonhar com rei dá leão (Beija-Flor, 1976): Este samba consagrou a escola de Nilópolis, a primeira a furar o bloqueio das quatro grandes da época, e o intérprete Neguinho da Beija-Flor.

36. Os sertões (Em Cima da Hora, 1976): Dispensa comentários. Obra-prima de Edeor de Paula, considerada por muitos o maior samba-enredo de todos os tempos. Foi reeditado pela escola de Cavalcanti em 2014.

37. A lenda das sereias (Império Serrano, 1976): Outro imorredouro samba da escola da Serrinha, gravado por Marisa Monte e reeditado duas vezes: pela Inocentes de Belford Roxo, em 2006, e pela própria verde e branca, em 2009.

38. Arte negra na legendária Bahia (Unidos de São Carlos, 1976): Com este lindo samba, a vermelho e branca conheceu o céu e o inferno: caiu em 1976 e subiu do Grupo B para o A, em 2005, numa arrancada que a levaria ao Grupo Especial em 2007.

39. Brasil, berço dos imigrantes (Império Serrano, 1977): Memorável samba da galeria imperial, um dos primeiros a ser cantado nas arquibancadas do Maracanã.

40. Domingo (União da ilha, 1977): Com este samba, de Aurinho da Ilha e parceiros, a tricolor insulana iniciava uma trilogia de obras imortais, que teve sequência com “O amanhã”, e “É hoje”.

41. A criação do mundo na tradição Nagô (Beija-Flor, 1978): inspirado no livro “Os nagô e a morte”, este samba foi gravado em forma de ópera e deu à escola nilopolitana seu primeiro tricampeonato.

42. O amanhã (União da Ilha, 1978): Outro samba imortal da já citada trilogia, composto por João Sérgio.

43. Afoxé (Cubango, 1979): Samba que deu o pentacampeonato do carnaval niteroiense à escola verde e branca, e o título do Grupo B do carnaval carioca, trinta anos depois.

44. Sonho de um sonho (Vila Isabel, 1980): Obra-prima de Martinho da Vila, com momentos de raro lirismo e críticas veladas ao então vigente regime militar.

45. O que é que a Bahia tem (Imperatriz, 1980): Samba que deu à Imperatriz o seu primeiro título no Grupo Especial, ao lado de Beija-Flor e Portela, e com Dominguinhos do Estácio à frente do microfone principal.

46. O teu cabelo não nega (Imperatriz, 1981): Outro grande samba da escola de Ramos, que lhe rendeu o bicampeonato, desta vez, sem empate com nenhuma coirmã.

47. Das maravilhas do mar, fez-se o esplendor da noite (Portela, 1981): Apesar de a Portela ter sido criticada neste ano por levar um tema, e não um enredo para a avenida, o samba se consagrou desde a disputa na quadra, e tornou-se um dos mais conhecidos da Majestade do Samba.

48. De Daomé à São Luis, a pureza Mina Jeje (Unidos do Cabuçu, 1981): Sucesso nas rádios da época, este samba é da fase pré-Grupo Especial (1985-1990) da escola, quando nenhuma das obras compostas chegou à altura da que lhe precedeu.

49. É Hoje (União da Ilha, 1982): Um ode à alegria, este samba tornou-se imortal para além do universo dos sambas-enredo, sagrando-se como uma das principais obras do cancioneiro popular do país.

50. Bumbum Paticumbum Prugurundum (Império Serrano, 1982): Samba de Aloísio Machado e Beto Sem Braço, campeoníssimos na escola da Serrinha, campeã pela última vez no Grupo Especial daquele ano. O título evoca a onomatopeia citada por Ismael Silva, criador da primeira escola, para diferenciar o samba do Estácio, chamado “samba de sambar”, dos demais. Rosa Magalhães, maior vencedora do Sambódromo, iniciava ali sua trajetória vitoriosa, ao lado de Lícia Lacerda. Trata-se do primeiro samba a conter o nome Sapucaí na letra, uma vez que os desfiles já se realizavam no local onde hoje está instalada a Passarela do Samba, criada em 1984.

Então, ficamos assim. No próximo encontro, daremos continuidade à listagem, com sambas desde 1983 até os dias atuais. Um abraço e até lá!

Cláudio Carvalho
claudioarnoldi@hotmail.com