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RETROSPECTIVA DO CARNAVAL 2022 – PARTE 1: DA TENSÃO A REDENÇÃO

   
RETROSPECTIVA DO CARNAVAL 2022 – PARTE 1: DA TENSÃO À REDENÇÃO

15 de dezembro de 2022, nº 71


Mais um ano se vai. E mais uma vez as famosas e famigeradas retrospectivas ressurgem para rememorar o que de bom (ou de nem tão bom assim) aconteceu ao longo de quase 365 dias. 2022 proporcionou ao brasileiro uma gangorra de emoções: foi da tensão pelo avanço da variante ômicron a retomada da vida normal gradativamente, da euforia (ao menos na maioria absoluta da população) pelo resultado eleitoral à frustração pela recente eliminação do Brasil na Copa do Mundo – e faltavam 4 minutos, apenas 4 minutos…

E o carnaval, fugiu dessa gangorra de emoções que foi 2022? Não. A roda do tempo girou e fomos da angústia ao alívio num estalar de dedos. O primeiro semestre, em principal, começou com o medo de uma hecatombe que poderia causar um segundo cancelamento consecutivo dos desfiles e terminou com a redenção da volta do brilho das escolas de samba nas principais passarelas do país e o retorno presencial dos preparativos pro fevereiro que virá. É tanta estória pra contar desse ano carnavalesco agitado que a coluna resolveu dividir em duas partes.

Toda caminhada tem seus espinhos, mas a devoção pela maior festa audiovisual do planeta segue mais forte do que nunca. Prepare o seu coração: olha a retrospectiva do carnaval de 2022 chegando...



Enfim, o carnaval do alívio!

Foram exatos 2 anos e alguns dias até as escolas de samba voltarem as principais passarelas do samba do Brasil. Com o adiamento das apresentações para o meio de abril, os palcos do carnaval foram reabertos em março, com os ensaios técnicos. Vai-Vai e Brinco da Marquesa abriram os trabalhos em São Paulo. Em terras cariocas, Em Cima da Hora, Império Serrano e Lins Imperial (voltando a pisar na Sapucaí após mais de uma década) começaram a temporada de treinos no Sambódromo. Pouco mais de um mês de preparações até o dia da grande volta.



Vai-Vai abriu a maratona de ensaios técnicos no Anhembi (Foto: Felipe Araújo/LigaSP)



Mas o leitor desavisado deve pensar: carnaval em abril? É sério? Vem cá que a gente te conta...



Mas como assim em abril?

Esse é um capítulo muito longo – e sobretudo desgastante. Pra tentar resumir: com a queda dos números da Covid-19 perto da virada de 2021 para 2022, as escolas puderam retomar seus trabalhos e se preparavam para os desfiles, a princípio, em fevereiro. Tudo muito bom, tudo muito bem, até que o novo aumento de casos do coronavírus, causado pela variante ômicron, pôs tudo em xeque. Como medida protetiva, o prefeito do Rio Eduardo Paes (PSD) anunciou no início de janeiro o cancelamento do carnaval de rua. Foi a senha para que infectologistas e parlamentares de legendas supostamente progressistas (ironicamente eleitos sob a bandeira de defender a cultura) pedissem também a suspensão dos desfiles na Sapucaí.

Figuras como o doutor Roberto Medronho – então membro do comitê científico da capital e que se apresentou como fundador do Simpatia é Quase Amor, um dos tradicionais blocos da Zona Sul carioca, sendo desmentido pelo mesmo posteriormente – apareceram nos noticiários defendendo o cancelamento dos desfiles no Sambódromo, a ponto de dizer numa live com o vereador e deputado federal eleito Tarcísio Motta (PSOL) que o carnaval de rua era “o verdadeiro carnaval”, suficiente para acender a fúria dos apaixonados pelas escolas de samba e desenrolar por vários dias uma desnecessária briga entre os carnavais “de avenida” e “de rua” pelas redes sociais. Margareth Dalcomo, outra figura importante da medicina, também defendeu a continuidade das medidas sanitárias que acarretaria na suspensão geral dos festejos, chegando a argumentar em texto publicado na Folha de S. Paulo que os desfiles de 2020 foram os responsáveis pelo aumento de casos de Covid – replicando uma notícia falsa frequentemente vista nas redes de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), o que rendeu uma resposta de Sidnei Carrioulo, presidente da LigaSP e do Águia de Ouro, no mesmo jornal e um processo por parte da Fenasamba. Além do mais, na mesma época surgiram fotos da médica participando de um evento que dispensava todos os protocolos sanitários, o que contradizia seu discurso.



Reunião que selou o adiamento dos desfiles para abril (Foto: Reprodução/GloboNews)


Discussão daqui, picuinha dali, desgaste acolá, fato é que em 21 de janeiro uma reunião entre Paes e o prefeito de São Paulo Ricardo Nunes (MDB) oficializou o adiamento do carnaval para o feriado de Tiradentes – no mesmo dia, a prefeitura de Vitória também definiu pelo adiamento dos desfiles no Sambão do Povo para o início de abril. Adiamento que forçou escolas a suspenderem por dois meses os ensaios de rua, mantendo os eventos em quadra seguindo todos os protocolos sanitários, além do cancelamento de parte da agenda dos ensaios técnicos no Anhembi. Por desacertos de calendário, os desfiles de Grupo Especial carioca e paulistano aconteceram simultaneamente, nos dias 22 e 23 – a Série Ouro ocorreu nos dias 20 e 21, enquanto os acessos paulistanos foram separados em seis dias: o 1 no dia 21 e o 2 no dia 16, em plena virada do Sábado de Aleluia para o domingo de Páscoa. Houve negociações para que as duas cidades não coincidissem as datas mas nada avançou, fazendo com que profissionais que atuam nas duas avenidas optassem entre a Sapucaí ou o Anhembi – o que gerou uma declaração polêmica de Sidnei Carrioulo: “São Paulo sempre fez desfile na sexta e sábado, não vamos mudar a data por causa de 10 pessoas”


Teve escola desfilando até… julho!

Nessa dança louca do calendário que 2022 proporcionou, o último desfile de carnaval ocorrido neste ano em algum canto do Brasil foi, acredite o querido leitor, no dia 24 de julho: a cidade paraense de Tucuruí foi a responsável por encerrar o circuito carnavalesco no país após dois anos de pausa.







Rio de Janeiro e São Paulo precisaram de dois meses a mais para esquentar os tamborins e voltar a desfilar seu brilho na avenida. O carnaval da vida aconteceu e consagrou suas campeãs, sem perder tempo para aprimorar novidades em vistas ao carnaval seguinte. Mas isso é assunto para o próximo capítulo.




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Carlos Fonseca
Twitter: @eucarlosfonseca