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RETROSPECTIVA DO CARNAVAL 2025 (PARTE 3): O QUE FOI DESTAQUE ALÉM DA AVENIDA
                     

22 de dezembro de 2025, nº 109


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RETROSPECTIVA DO CARNAVAL 2025 (PARTE 3): O QUE FOI DESTAQUE ALÉM DA AVENIDA

Um novo carnaval começa a partir do momento em que a última escola do sábado das campeãs cruza o final da avenida – ou, no caso do Rio de Janeiro, quando a última campeã da Intendente Magalhães, geralmente aquela que vai abrir o próximo ano na Sapucaí, é conhecida.

A festa é o ápice, mas não se constrói sozinha. A avenida é a glória, mas pra se chegar lá muita coisa precisa ser feita. E a rolança do tempo (termo que aprendi num enredo da Acadêmicos de Santa Cruz sobre o imortal Mário Lago) não gira em torno de apenas dez, quinze dias. E como uma retrospectiva não é feita apenas de desfiles, destacamos aqui nesta parte final os principais momentos do carnaval além da avenida.


Tanta pressa pra quê...

A LIESA andou em passo muito apressado neste 2025. Depois da estreia do formato de três dias de desfile e de sair com ferimentos nada leves da polêmica envolvendo o julgamento da Unidos de Padre Miguel, a Liga virou a chave para 2026 mais cedo do que o normal: o sorteio da ordem de desfile foi realizado no dia 11 de abril (muito antes do que se costumava fazer), o calendário das finais de samba-enredo foi adiantado pra setembro numa forma de lançar o álbum oficial o mais cedo possível, a Noite dos Enredos veio para o início de agosto... Fora isso, outros anúncios importantes: mudanças no julgamento e no corpo de jurados (seis por quesito, com sorteio de quatro notas), o anúncio da lista de forma separada – Bateria foi o primeiro quesito a ter seus julgadores divulgados, a criação de uma Fan Fast em Copacabana, a redução dos ensaios técnicos às semanas anteriores ao desfile e o desmembramento do desfile mirim.

Mas se tratando dos eventos-chave, a gestão de Gabriel David e companhia seguiu em rota não-linear. A gente até entende os motivos, mas... Por que a pressa?



Beija-Flor se apresenta no sorteio da ordem de desfiles para 2026 (Foto: Carlos Fonseca/SAMBARIO)



Discografia em tempos (irritantemente) modernos

Já que falamos em samba-enredo no tópico anterior... Não bastasse apenas o lançamento antecipado (o que até tem seu ônus): a divulgação das faixas em formato de single (individual) foi a grande novidade e tendência do ano, num definitivo aceno aos modelos modernos do mercado musical. As datas foram mais individuais ainda: entre os sambas de Tuiuti e Vila foram quase 15 dias de intervalo. Algo pra se ajustar – caso o recurso se mantenha – para os próximos anos... Como se não bastasse, a Série Ouro e outras praças (como Vitória e Corumbá) aproveitaram o embalo da LIESA e também adotaram o modelo. São Paulo deixou de produzir a mídia física, mas pelo menos lançou tudo de uma vez...




Sambas do Grupo Especial carioca foram divulgados individualmente, em formato de single (Foto: Divulgação/Rio Carnaval)



E já que falamos em São Paulo...

Algumas mudanças importantes rolaram na gestão dos desfiles no Anhembi. A começar pela diretoria da LigaSP: também presidente da Dragões da Real, Renato “Tomate” Remondini assumiu o comando da instituição sob o lema de faze-la “Resistente, Acolhedora, Inclusiva”. Tratando-se das escolas, Fabinho LS assumiu a presidência do Império de Casa Verde com a saída de Alexandre Furtado – também vice-presidente da Liga, preso desde setembro. Porém, nada foi mais dramático do que se desenrolou pelos lados da Barra Funda: após o quinto lugar, o Camisa Verde e Branco se viu envolto em uma guerra política que paralisou os trabalhos da escola por quase cinco meses. A atual diretoria (da presidente Erica Ferro) e o grupo de oposição (comandado pelo trio Carlos Alberto "Xará", Luciano de Jesus e Fernando Neninho) travaram longos processos judiciais acerca da realização de novas eleições na escola – marcada e desmarcada por diversas vezes. Sem um acordo momentâneo, a Justiça devolveu a presidência da agremiação para Erica Ferro, que enfim pode tocar o carnaval do Trevo – que agora corre contra o tempo.


Na tela da TV, no meio desse povo

Com relação aos direitos de transmissão, nada mudou nos desfiles principais: a TV Globo manteve o Grupo Especial de Rio e São Paulo no seu portfólio. As mudanças ficaram para outros grupos: a Band adquiriu a transmissão do Grupo de Acesso 1 paulistano, que se junta à Série Ouro carioca no canal dos Saad – ainda não foi confirmado que o Acesso 2 continuará tendo exibição televisiva. Fora da Ponte-Aérea, a grande novidade ficou para Vitória: os desfiles do Sambão do Povo trocaram a TV Gazeta (afiliada da Globo) pela TV Sim, que assumiu o sinal do SBT no estado no início de 2025.


Os sucessores

Um dos momentos mais esperados do pós-carnaval de 2025 (e, evidente, o pré de 2026) derivou a pergunta muito repetida desde o fim dos desfiles: quem vai substituir Neguinho da Beija-Flor? Pra responder, a solução foi criar um reality show: “A Voz do Carnaval”, parceria da agremiação com Globo, AfroReggae e Formata, que teve produção de José Junior, Daniela Busoli e Leonardo Lessa Lopes, direção de Jorge Espírito Santo e idealização do presidente da LIESA Gabriel David. Gravado em junho na Cidade do Samba, o programa indicou Nino do Milênio e Jéssica Martin como os vencedores e novos intérpretes da atual campeã – ambos empataram no episódio final. A exibição do reality no canal pago em setembro, no entanto, teve baixíssima repercussão (o primeiro episódio, por exemplo, foi exibido no mesmo horário de um jogo da Seleção Brasileira).

Na Portela, a inesperada morte de Gilsinho fez a escola contratar Zé Paulo Sierra para o posto, dividindo-o com a União de Maricá. Zé é o primeiro cantor a defender duas agremiações na Sapucaí desde Quinzinho em 1994 – quando o veterano serviu ao Salgueiro e à Santa Cruz.



Agora é com eles: Nino do Milênio e Jéssica Martin sucedem Neguinho da Beija-Flor na atual campeã (Foto: Divulgação/Multishow)



Festa estranha com gente esquisita

Este site é exclusivamente voltado ao samba-enredo e não dá palco pra famosos (até porque tradições são inegociáveis), mas infelizmente é inegável citar a invasão de celebridades ou de gente que se diz uma no meio do carnaval. A começar pela tal Virgínia, que uma vez coroada rainha de bateria trouxe consigo seu samba no pé (ou a falta dele), seu caminhão de contradições e sua seita cibernética que anda arrumando polêmica dia sim o outro também. Depois, a profusão de musas no Salgueiro – com anúncio dia sim, o outro também. E como se não bastasse, ainda teve uma ex-participante de reality show indo pra internet falar que o carnaval precisava “agradecer” as influenciadoras por “estar mais bombado” em relação aos anos anteriores. É mole?

Eu pergunto a você, caro leitor: vale a pena tudo isso pra “sair da bolha”? Eu hein...


Aliás, aliás...

Falando agora pra dentro, o que mais se viu esse ano nas redes sociais foi um festival de atitudes lamentáveis da “bolha” nas discussões sobre carnaval, incluindo desrespeito deliberado à pavilhões, profissionais e até gente comum que discute o desfile com racionalidade. Já dizia o falecido Sólon Tadeu: isso é uma festa, não uma guerra. Mais amor no coração, rapaziada.


Homenagens e mais homenagens

Se os desfiles de 2025 foram em tom afro, os anúncios de enredo em 2025 seguiram o tom da reverência e do legado. Nove das 12 escolas do Grupo Especial carioca optaram em prestar homenagens no seu próximo carnaval – em São Paulo, a Estrela do Terceiro Milênio vai homenagear o compositor Paulo César Pinheiro. Da escritora Carolina Maria de Jesus ao presidente Lula, cada uma teve um jeito. Mas dentre tantas, nada superou o diferencial da Viradouro quando revelou a homenagem pra Mestre Ciça: surpreendendo todo mundo... inclusive o próprio homenageado, que não conteve a emoção, numa das cenas mais bonitas do ano.



A emoção de Mestre Ciça ao descobrir que o enredo da Viradouro seria... ele mesmo (Foto: Renata Xavier)



E o ano termina com um crossover inesperado

O samba que embalou o campeonato do Rosas de Ouro em março termina o ano na crista da onda. Um trecho da letra foi utilizada pelos perfis oficiais do Vasco após a classificação do clube pra final da Copa do Brasil, suficiente para a torcida cruzmaltina abraçar o samba na busca pelo título da competição – que acabou esbarrando no Corinthians no jogo decisivo. A relação da Roseira com o esporte-bretão é longa, já que o samba de 1988 foi usado como vinheta nas transmissões da extinta Rádio Globo paulistana entre os anos 80 e 90. Futebol e samba sempre caminharam lado a lado, mas por essa “collab” nem mesmo o vascaíno mais sambista esperava...




O grande samba do ano

Candidatos ao posto houveram: o Malunguinho da Viradouro, as Pororocas Parawaras (ou para os íntimos “A Mina é Cocoriô”) da Grande Rio, a obra do Barroca Zona Sul sobre Iansã... Mas o grande samba da temporada eleito por esta coluna vem de Vitória: “Da Lama Sai Muito Barulho”, obra que a Chegou o Que Faltava fez para exaltar seu bairro de origem, Goiabeiras. A letra (de um único autor, Junior Fionda) procura sempre destacar a afirmação do orgulho da agremiação pelas suas raízes, em versos como “Nasci… Da fogueira dessa gente / De chão nobre, imponente / Preta forma de amor” e nos fortes refrães, sobretudo o central muito destacado pelo trecho “Tira a canga do boi”, de uma melodia irresistível. O samba embalou a azul, rosa e branco ao seu primeiro vice-campeonato no carnaval capixaba desde 1987.





E assim foi 2025. Um ano carnavalesco de novidades, de pressa, de perdas, modernidade e consagrações. Agora, mais uma vez, o futuro nos espera. E que o carnaval possa nos trazer novas histórias, novos capítulos, novas emoções e alegrias para testemunhar. Repetindo sempre aquele lema: onde tiver samba, onde tiver avenida, estaremos lá para aplaudir e batucar. Pois, apesar de tudo e todos, carnaval segue firme.

A você, querido leitor do SAMBARIO que nos acompanha pacientemente e nos ajuda (dentro do possível) durante todo o ano, os nossos votos de Feliz Natal e um excelente Ano Novo. Que 2026 seja rodeado de esperança, amor, muito batuque e samba no pé. A gente se encontra.

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