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Os sambas de 1979

Os sambas de 1979

A GRAVAÇÃO DO DISCO - Em tempos mais recentes, nunca o Grupo Especial (ou I-A) contou com tão poucas escolas: apenas oito. Por conta disso, no disco de 1979 estão presentes as oito faixas das escolas do desfile principal, mais quatro de oito das que desfilaram no Segundo Grupo, o I-B (Unidos do Cabuçu, Império Serrano, Unidos de Lucas e Vila Isabel). As escolas restantes do Grupo de Acesso (Caprichosos, Arranco, Cascadura e Ponte) gravaram seus sambas num compacto que fazia parte do álbum. Confusão, né? Semelhante a que aconteceria anos depois, com escolas gravando seus sambas ou pela BMG ou pela Top Tape nos anos de 1986 e 1987. É que a queda de Vila Isabel e Império Serrano no ano anterior fez com que o Grupo I fosse dividido em dois (I-A e I-B), para que as duas escolas não se sentissem tão rebaixadas. O mesmo aconteceu com o Grupo II. O carnaval carioca fora dividido em quatro grupos, portanto. O número de escolas na elite voltaria a ser de dez no ano seguinte, o que resultou na ausência dos rebaixamentos em 1979. Sobre a gravação, os tamborins têm uma participação discreta. A base da bateria é feita pelo surdo e, principalmente, pelas frigideiras. Foi a única vez que elas se destacaram em todas as faixas do disco, o que proporcionou um charme a mais na gravação. Elas se ausentaram por 26 anos, até que a Beija-Flor, cujas frigideiras deram um show no desfile do bicampeonato em 2004, resolveu colocá-las na gravação de seu samba para o CD de 2005. Um momento de satisfação para mim, um inveterado admirador das frigideiras do disco de 1979. Bem que elas poderiam ter suas presenças garantidas nos álbuns posteriores de samba. A safra de sambas do ano é excelente, aliás, era uma época em que sambas ruins eram raros. São 12 faixas do disco de 1979, mas avaliarei aqui apenas os oito sambas das escolas que desfilaram no Especial (ou I-A na época). NOTA DA GRAVAÇÃO: 10 (Mestre Maciel).

O Primeiro Grupo de 79 é o mais vazio da história. Deve-se claramente ao acesso do ano anterior, já que quatro das doze escolas do Primeiro Grupo cairam. A gravação do disco de 1979 é excelente! É repleta de ecos, principalmente no segundo entoamento do refrão pelas pastoras. A bateria aparece muito bem, numa cadência infinita. Podemos identificar com precisão cada um dos instrumentos. A safra é excelente, graças a só haver escolas grandes no então Grupo 1-A. Destaque para o samba Estandarte de Ouro da Portela, o melhor do ano. O disco está repleto de outros belos sambas, como o do Salgueiro e da União da Ilha, além da fantástica marcha-enredo da Mangueira. NOTA DA GRAVAÇÃO: 10 (Gabriel Carin).

Seguindo um estilo de produção semelhante ao de 1978, o LP de 1979 tem uma produção bem interessante, com uma sonoridade menos datada que a dos LPs do início do anos 80. A cadência é muito agradável, a afinação do surdo é maravilhosa e você pode ouvir instrumentos que hoje em dia foram quase que foram banidos das faixas dos CDs de sambas enredos, como as cuícas e frigideiras. O único realmente negativo do LP é a voz do coral, entrando na segunda passada dos sambas, e que soa estranha, desconfortável. O LP traz, de forma inédita e nunca mais repetida, os sambas do grupo de acesso junto aos do especial, permitindo a presença dos ótimos sambas da Vila Isabel e da Unidos de Cabuçu. Devido ao limite de tempo dos LPs, além do bolachão, foi distribuído um compacto com 4 sambas do Grupo 1-B. A safra é agradável, apesar de só ter uma obra-prima incontestável – o incrível, fantástico e extraordinário samba portelense, início brilhante da fase de vitórias consecutivas de David Correa na Portela, seqüência comparável em qualidade às de Silas de Oliveira, no Império, e Martinho, na Vila, no final dos anos 60. Outros destaques são os bons sambas da Imperatriz e o da Mocidade, trilha sonora do primeiro título da escola. (João Marcos)

3A - BEIJA-FLOR - Um samba de melodia pesada, característica semelhante aos hinos atuais da escola. O samba da Beija de 1979 só poderia ser cantado de maneira cadenciada, pois, se acelerassem mais um pouquinho o ritmo, o estrago seria geral. Gosto muito deste samba, sua gravação no disco é maravihosa, porém seu arrastamento na avenida me parece iminente, embora a agremiação de Nilópolis tenha obtido o vice-campeonato em 1979 (na época em que o luxo de Joãosinho Trinta, que sempre falou mais alto d que o samba, ainda era novidade). A letra do refrão principal nunca assimilei bem: "Hoje sou livre, sou criança Beija-Flor/amante da beleza, sou um ser espacial/ôôôôô/brindando a vitória do amor". Como o enredo era sobre loucura, o motivo por uma coisa não ter nada a ver com a outra no refrão só pode ser esse... NOTA DO SAMBA: 9,3 (Mestre Maciel).

Depois de cinco campeonatos consecutivos, Joãosinho Trinta enfim não abocanhou novamente o 1º lugar. Além de não possuir um conjunto visual dos melhores, a Beija-Flor parece que pecou muito ao tentar colocar um contingente absurdo de pessoas desfilando, uma vez que isso atrapalhou bastante a fluência da escola na avenida. De qualquer forma, o hino da agremiação para aquele carnaval era sem dúvida, excelente. O refrão de cabeça, apesar de demasiadamente confuso, possui uma melodia deliciosa e é de fácil canto. A primeira parte da obra assimila de forma sagaz bom humor com inteligência, abordando o tema até com certa clareza se for levar em conta que o enredo fala sobre loucura. O refrão central, para quem pôde assistir o desfile, é praticamente uma cópia musicalizada do que o carnavalesco apresentou na avenida em matéria de alegorias e adereços. Já a segunda parte do samba é de uma riqueza melódica e poética ímpar, contendo pérolas lindíssimas como “Olhem o céu, que maravilha/Retalhos de nuvens, bordados de estrelas” ou “Tudo neste mundo é encantado/Com o despontar da primavera/Tirem do passado a nobreza/E do futuro, a magia da surpresa”. Poesia pura, literalmente falando! O hino, como um todo, é muito bom. NOTA DO SAMBA: 9,5 (Gabriel Carin).

Apesar da soberba interpretação de Neguinho, este samba, um dos mais pesados da história da escola, embalou a primeira derrota de Joãozinho Trinta. O carnavalesco, que tinha vencido os desfiles dos cinco anos anteriores, segundo os comentaristas da época, errou a mão e fez um desfile marcado pelo mau gosto. Apesar disso, talvez pela força da escola nos anos anteriores, os jurados pegaram leve e deram o vice à escola. O samba, apesar de não ser genial, tem uma letra simples, que passa com clareza o enredo da escola. A letra, entretanto, não casa bem com o peso da melodia. Talvez, por este motivo, a escola, a partir do ano seguinte, comece a apostar num estilo de samba um pouco diferente, buscando maior apelo popular, sem conseguir bons resultados nesse aspecto. A primeira parte segue esquisita, com melodia de um lado, letra do outro, Mas quando consegue ser mais poética, principalmente no início da segunda parte, o samba consegue funcionar. Enfim, uma boa obra, mas que não tem grandes marcas tanto na história do carnaval como da própria escola. NOTA DO SAMBA: 8,8 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba

4A - MOCIDADE - A letra do samba é interessante, pois a primeira parte faz uma aclamação para que o povo desfrute do carnaval da agremiação de Padre Miguel e a segunda conta como Cabral chegou em terras brasileiras, além de dois belos refrões, sendo que o central é o mais patriota da história do carnaval ("De peito aberto que eu falo ao mundo inteiro: eu tenho orgulho de ser brasileiro"). O samba-enredo é de formato antigo, principalmente pela letra curta. A melodia possui um estilo clássico, característica marcante dos sambas mais antigos da escola. O belo samba sem dúvida ajudou a Mocidade a conquistar o seu primeiro título no desfile principal. Antes, a agremiação possuía apenas o campeonato conquistado no Grupo 2 em 1958 com o enredo do "coroné" Trigueiro. Desde então a Mocidade, que antes apenas amargava posições intermediárias, passava a ser uma escola de ponta do carnaval carioca. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Mestre Maciel).

Os compositores do hino independente que consagrou o primeiro campeonato da Mocidade no carnaval carioca e que acabou com o sonho do hexa de Joãosinho 30 são os mesmos autores do clássico "Mãe Menininha do Gantois": Tôco e Djalma Crill. "O Descobrimento do Brasil", enredo fruto de um vultoso momento de inspiração de Arlindo Rodrigues, gerou um sambinha simples, de estrutura antiga, porém ainda delicioso. A melodia é de uma leveza singular, repleta de boas variações. A primeira parte da obra é excepcional, pois tem como objetivo apenas apresentar o carnaval da Mocidade e convidar os sambistas para acompanhar seu desfile, sem compromisso de descrever o enredo da escola. O tema somente começa a ser narrado na segunda parte, onde é contado de forma simples e correta, embora não cause impactos. Ambos os refrões são ótimos, com destaque ao central. Bela trilha sonora entoada no primeiro título da agremiação. NOTA DO SAMBA: 9,1 (Gabriel Carin).

O samba da escola é brilhante na capacidade de sintetização do enredo na letra, basicamente feito em poucos versos na segunda parte. A primeira parte simplesmente serve para chamar o povo para ver a Mocidade passar, com um refrão exaltando o orgulho de ser brasileiro. Impossível, nos dias de hoje, um samba com uma letra construída de forma tão inteligente. O regulamento burro da LIESA, exigindo uma certa “técnica”, na verdade, só serve para engessar compositores e amedrontar diretores de carnaval incompetentes. O samba da Mocidade peca um pouco na melodia, que não causa grandes impressões, apesar de ser correta. Os refrões não são muito fortes e o samba não tem pontos altos, sendo um “todo” muito bom. NOTA DO SAMBA: 9 (João Marcos).
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5A - IMPERATRIZ - Samba animado, sem dúvida com a cara e o estilo de Dominguinhos do Estácio, que fazia a sua estréia na Imperatriz Leopoldinense logo após uma passagem pela Santa Cruz no ano anterior. O refrão "Bata palma mãe pequena..." é delicioso e o restante da melodia é tradicional, bem clássica, mas com o toque de animação de Dominguinhos, que começava a se tornar um dos melhores intérpretes de todos os tempos. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Mestre Maciel).

Outro clássico da escola, que voltou ao Grupo 1-A em 1978. Foi maravilhosamente bem interpretado por Dominguinhos no vinil em seu primeiro ano na Rainha de Ramos. Tem dois refrões surpreendentes e conta muitíssimo bem o enredo. Destaque para o trecho "O rei ficou ciente/De tudo que aconteceu/Porque foi que os rios secaram/E o céu escureceu". Fantástico! Belo samba da escola! NOTA DO SAMBA: 9,5 (Gabriel Carin).

Um samba empolgante, com a assinatura de três mestres - Dominguinhos, Guga e Darci, sendo que a interpretação do primeiro no LP é absurda. Os tambores dão um sabor especial ao samba, que tem dois refrões geniais, dos melhores já feitos – a simplicidade do de cabeça, com a repetição de “Arrobobo, Oxumarê!”, tem efeito maravilhoso e é uma verdadeira aula para os compositores de sambas afro de boutiques, como vimos aos montes em 2007. No segundo, quando o samba convoca o povo a “bater palmas”, dá um tiro de misericórdia – o samba já te conquistou. A segunda parte, onde o enredo é contado, é mais confusa, mas não estraga o samba – serve como um alívio para um início arrebatador. Enfim, um grande samba, que marcou a volta da escola ao grupo principal. No ano seguinte, a Imperatriz seria campeã, com um samba que repete muitas das características deste aqui. NOTA DO SAMBA: 9,6 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba

6A - SÃO CARLOS - A melodia desse samba é emocionante e bastante tradicional, com um refrão muito bonito! O estilo de letra é bem compatível com os sambas de outrora, pois ela evidencia uma narrativa do enredo sem enfeites ou clichês, de forma até didática. No disco, quem canta o samba é Leleco, um dos autores do samba. Suas deficiências vocais são evidentes na gravação e, pra avenida, a escola precisou recorrer a Elza Soares. Para mim, um samba de enredo maravilhoso! NOTA DO SAMBA: 9,4 (Mestre Maciel).

Após um ano no Acesso, a São Carlos voltou ao Grupo 1-A apelando para um de seus sambas mais dolentes. “Das trevas a luz do Sol, uma odisséia karajá” é um hino de melodia rica, envolvente, capaz de cativar o ouvinte através de suas variações emocionantes. A letra, que por sinal, descreve o tema com muita competência, utiliza variadas palavras um tanto rebuscadas, porém devidamente coerentes ao enredo da escola, tais como “Javaés”, “Xambioás”, “Kaboi”, “Avoengo”, “Kanaxivue” e “Mareicó”. Isso dificulta o canto dos componentes, embora ainda demonstrem certa inteligência por parte dos compositores no uso apropriado de cada um desses termos. O refrão de cabeça, inclusive o único do samba, a primeira vista possui uns apelativos “Olê olê, olê olá”. Entretanto, sua ausência deixaria um vão melódico que, na verdade, tiraria todo o seu impacto. Excelente faixa do vinil! NOTA DO SAMBA: 9,4 (Gabriel Carin).

Cantado na avenida por Elza Soares, o samba da escola tem um refrão de cabeça bem simples, com um “olê, olá”, apelativo, mas que funciona razoavelmente bem. O resto do samba tem uma letra descritiva, com uma melodia com variações suaves, que não causam grandes impressões. Dá a impressão que o samba foi todo feito para estourar no refrão que, apesar de fácil, não chega a causar um êxtase, como ocorre, p.ex., num “Aquarela Brasileira”. É um samba discreto, que não conseguiu salvar a escola da última colocação no grupo. Felizmente, não houve descenso em 1979 diante do reduzido número de escolas no Grupo 1-A. NOTA DO SAMBA: 7,4 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba

2B - PORTELA - Uma das maiores obras-primas da história do carnaval! Sua melodia é de arrancar lágrimas, pois trata-se de um samba de David Corrêa sem a sua animação característica. A letra então é um primor. Os dois refrões são extraordinários. Enfim, chegam a faltar adjetivos! É inconcebível que o hino portelense de 1979 esteja ausente das coletâneas dos melhores sambas da escola. Sua ausência na coletânea da Sony é lamentável! Disparado o melhor do ano, este samba-enredo, Estandarte de Ouro em 1979, é, enfim, incrível, fantástico e extraordinário! NOTA DO SAMBA: 10 (Mestre Maciel).

Um clássico do carnaval carioca, o samba mais lírico do gênio David Corrêa! Tem uma melodia fantástica e uma letra muito bem feita! O refrão "Ôôôôôôôôôô/Alegria já contagiou/A ordem do rei é brincar/Quatro dias sem parar" é um dos melhores de todos os tempos. Fala muito bem da folia carioca e da alegria do povo do Rio de Janeiro. "Incrível, fantástico, extraordinário" é sempre lembrado e relembrado pelos bambas, o que torna sua ausência na Coletânea Sony um grande absurdo. Realmente, um dos melhores sambas-enredo da Portela! Uma verdadeira auto-homenagem ao carnaval brasileiro! A escola, que venceu o Estandarte de Ouro, ficou num mísero terceiro lugar. Foi o primeiro desfile emocionante da Portela depois que Natal faleceu. A escola de Oswaldo Cruz voltou a brigar pelo título, mesmo sem o lendário Hiran Araújo como carnavalesco, demitido em 1977 depois de não conseguir agradar os sambistas com seus desfiles. Em 1978, a célebre Rosa Magalhães era a carnavalesca, mas a escola ainda não teve um grande resultado (5º lugar). Com um samba extraordinário desses e tendo o saudoso Viriato Ferreira como carnavalesco, a Portela voltou a brigar pelo título. Essa obra-prima é realmente incrível, fantástica e extraordinária. NOTA DO SAMBA: 10 (Gabriel Carin).

Uma obra-prima, um samba exuberante, daqueles de fazer qualquer apaixonado por samba-enredo parar para prestar atenção e começar a cantar junto. Uma interpretação majestosa de David Correa no LP. Enfim, este é O MOMENTO do LP. Tem de tudo – a letra é simples e passa o enredo com brilhantismo, refrões arrasa-quarteirão, a melodia e a letra combinando num clima de lirismo e romantismo, de leveza e poesia. Um dos mais belos e bem feitos sambas da história, talvez não tão citado em pesquisas de melhores sambas por ter a escola ficado apenas na terceira colocação - tão questionada pelos portelenses e sambistas em geral que, em 1980, a Portela trouxe o enredo “Hoje tem Marmelada!”, com um duplo sentido – além de falar do circo, criticar o resultado absurdo do ano anterior. Este samba é de arrepiar e, se não embalou um desfile campeão pelo júri oficial, embalou um desfile campeão moral. NOTA DO SAMBA: 10 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba

3B - MANGUEIRA - Uma das primeiras marchas-enredo a que se tem notícia e um dos últimos sambas de enredo que utiliza um mesmo refrão como o principal e também como o central. Ele, aliás, é a identidade do hino mangueirense de 1979, pois seu canto é fácil e seu balanço é contagiante: "Tem mulata, pessoal/Na colheita do cacau". As demais partes possuem uma melodia qualificada, sendo bem variada. Este samba aparece em seguidas coletâneas de samba-enredo, além de ter sido regravado por Jamelão duas vezes: a primeira num disco entitulado "Os Melhores Sambas-Enredo de Todos os Tempos"; que data do início da década de 80; e a segunda em 2002, compondo um pot-pourri com o samba deste mesmo ano, que rendeu à Mangueira o seu último título. NOTA DO SAMBA: 9,3 (Mestre Maciel).

"Tem mulata pessoal/Na colheita do cacau!". Um clássico da verde-rosa! Mesmo sendo muito simples, seu refrão é muito show mesmo. Uma belíssima marcha-enredo, com uma letra interessante (apesar de muito simples) e melodia contagiante. Tem alguns momentos que poderiam até ser classificados como  trash, como "Amazônia foi a região onde surgiu/Incentivando a indústria cacaueira/Como fonte de riqueza do Brasil". A escola, que levantou um vice no ano anterior, teve problemas com carros muito grandiosos, atrapalhando sua evolução. A Velha Manga ficou em quarto lugar. NOTA DO SAMBA: 9,6 (Gabriel Carin).

Um dos mais fracos sambas mangueirenses da história. O refrão “Tem mulata, pessoal / Na colheita do cacau” é feio, trash, e o pior, é repetido DUAS VEZES! Já imaginou no meio da plantação, um monte de mulata sambando? Que beleza, hein? Ainda bem que não eram roseiras... A letra é simplória, sem qualquer poesia, e é muito mal resolvida - “Na Amazônia, foi a região onde surgiu” Surgiu o que? Resposta: “Incentivando a industria cacaueira como fonte de riqueza do Brasil”. Aliás, a “belíssima” palavra “cacaueira” aparece duas vezes na letra, já que os compositores simplesmente não conseguiram encontrar uma alternativa para passar a idéia, sintoma da pobreza da letra. A melodia é monótona e o refrão tenta, sem sucesso, tornar o samba animadinho. O samba é um desastre e nem a versão de estúdio feita por Jamelão, encontrável no LP “Sambas Enredos de Todos os Tempos” esconde as suas limitações. Na história da escola, só é superior ao pavoroso e inacreditável samba do ano seguinte. NOTA DO SAMBA: 5,8 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba

4B - SALGUEIRO - Um primor de samba-enredo! Um legítimo hino em prol da preservação da natureza! Cantado num tom baixo e melancólico (o que cai como uma luva para Rico Medeiros), a letra, embora curta, diz tudo num tom direto e conclamador. O refrão principal é muito bonito e a segunda parte do samba é primorosa em melodia. E pensar que o mesmo Salgueiro que hoje só apresenta marchas-enredo oba-oba já apresentou um samba triste como este... Aliás, não é exagero considerarmos este um dos mais tristes sambas de enredo (triste em termos de estética melódica e não em qualidade, obviamente) de todos os tempos. NOTA DO SAMBA: 9,4 (Mestre Maciel).

E a Natureza/Com seu cenário multicor/Refloresce novamente/Com todo seu esplendor!”. Chega ser inusitado o fato de Bala, um dos compositores do tristonho samba salgueirense de 1979, também ser o mesmo autor dos empolgantes “Bahia de todos os deuses”, “Traços e Troças” e “Peguei um Ita no norte”. Quanto à obra, é dona de uma das letras mais poéticas da história do carnaval e de uma melodia riquíssima, adornada o tempo inteiro de comoção e lirismo. Enquanto a primeira parte da obra retrata todo o reino da Mãe Natureza com uma poesia exuberante, típica dos sambas-enredo de outrora, a segunda passa uma mensagem clara de alerta ambiental. O refrão central, além de belíssimo, complementa a melodia da primeira parte. Já o de cabeça, tem como objetivo causar um impacto imenso no ouvinte, algo que conseguiu com muita felicidade, tanto que é para mim, a melhor parte do samba. Fascinante! NOTA DO SAMBA: 9,7 (Gabriel Carin).

Rico Medeiros costuma colocar muito peso em suas interpretações. Neste samba, onde a melodia tem um sentimento de tristeza e melancolia, e a letra é extremamente pessimista, Rico torna a faixa um dos momentos mais depressivos de todos os LPs de Sambas Enredo, ao lado de Unidos da Tijuca 1982 e Unidos do Jacarezinho 1986. A letra, principalmente, na primeira parte, pinta imagens poéticas ao descrever a natureza, com uma leveza que não combina muito com a melodia. A segunda parte é menos qualificada do ponto de vista poético, mas funciona melhor. O refrão, apesar de bonito, é estranho porque é a parte mais triste do ponto de vista melódico, porém tem uma letra que invoca uma certa felicidade. É um samba difícil de analisar porque é bonito, mas que não tem um bom encaixe entre o sentimento da letra e da melodia. NOTA DO SAMBA: 7,8 (João Marcos). Clique aqui para ver a letra do samba

5B - UNIÃO DA ILHA - Mais um clássico da União da Ilha, que vivia uma fase áurea em matéria de sambas de enredo na época, de letras curtas aliadas a melodias simples e cativantes. Com o timbre marcante do lendário Aroldo Melodia, a escola canta um samba bem lírico, de belíssima melodia. Considerado um dos mais famosos sambas da União da Ilha, sua ausência na coletânea da escola feita pela Sony em 1993 é muito estranha. NOTA DO SAMBA: 10 (Mestre Maciel).

Legal! Um enredo sobre enredos! É uma singela homenagem da Ilha aos grandes enredos que já passaram na avenida. Veja só: "Vou perguntar à menininha do Gantois (Mocidade 1976)/Pode ser um grande Herói (Portela 1975)/Índios, africanos ou magia (Imperatriz 1971)/Ou será um tema da velha Bahia? (Vila Isabel 1969)/Já ouvi dizer que é Debret (Salgueiro 1959)/Ou antigos carnavais (Salgueiro 1965)". Gostaria muito de ter visto esse desfile! Deve ter sido um máximo! Quanto ao samba, é genial, de melodia lírica e a letra, como vimos, é inteligentíssima! Bom momento da escola no primeiro grupo, com um samba fantástico desses, sempre lembrado pelos bambas. O refrão principal é extraordinário! NOTA DO SAMBA: 9,7 (Gabriel Carin).

Um dos grandes momentos da escola, “O Que Será?” é um samba enredo à frente de seu tempo, com sua letra construída de forma fiel ao enredo, mas sem a frescurada professoral das atuais – ao falar da expectativa do sambista pelo desfile de sua escola, a letra emula sambistas conversando no período pré-carnaval. “Já ouvi dizer que é Debret ou antigos carnavais” é o sambista fazendo as cogitações sobre os possíveis enredos das escolas... parece que as coisas não mudaram muito... Aliás, estas sacadas de Didi, que transpunham para os sambas o bom humor e a forma de pensar do sambista, que fazem os sambas da Ilha do período serem tão bons. Nos anos 80, muitos compositores tentaram usar fórmula semelhante, com diferentes graus de sucesso. “O que Será?” pode não ter a qualidade transcendental de um “Domingo” ou “É Hoje”, talvez falte um refrão mais forte, mas é um samba que está anos-luz de 99% das bobagens que as escolas de samba escolhem hoje em dia. NOTA DO SAMBA: 9,8 (João Marcos).  Clique aqui para ver a letra do samba