20ª EDIÇÃO
25/03/05
Olá, amigos! Dessa vez quero falar um pouco a respeito de alguns quadros do Programa Chespirito. Nessa febre que vivemos de falar sempre apenas de Chaves e Chapolin, acabamos esquecendo que o mestre Roberto Gómez Bolaños nos brindou com vários outros personagens, ao longo de 25 anos de programas. Doutor Chapatin, Vicente Chanbón, Don Caveira, Chaparrón Bonaparte, quadros independentes.
Lucas e Chaparron foram criados na
década de 80. Muitos consideram esse quadro como o mais
engraçado do Programa
Mas quero
destacar aqueles que são, na minha opinião, os dois personagens
mais carismáticos do Programa Chespirito (sem contar, é claro,
a dupla dinâmica). Estou falando de Chaparrón Bonaparte
(Pancada) e Chompiras (Chaveco). Esses dois quadros, em especial
na década de 90, praticamente ganharam vida própria e
carregaram nas costas o programa, já que Chaves e
Chapolin não podiam mais ser feitos com a mesma qualidade devido
à idade avançada do elenco e a outros fatores, como as
ausências de Ramón Valdez e Carlos Villagrán.
Nesta coluna, vou falar exclusivamente sobre o Chompiras, que é um velho conhecido da década de 70. Junto com o quadro do Dr. Chapatin, foi criado quase que simultaneamente com Chapolin e Chaves, nos primórdios do Programa Chespirito. Mesmo quando o Programa acabou e Chaves e Chapolin ganharam séries próprias, o Chompiras, assim como o velho Chapatin, não deixaram de existir. Apareciam ocasionalmente antes do programa principal, com esquetes de cinco minutos. Aparecia menos do que o Chapatin, mas aparecia.
O quadro do Dr. Chapatin teve uma
trajetória parecida com o do Chompiras: esquete antes dos
programas Chaves e Chapolin nos anos 70, mais valorizado nos anos
80 e fundamental nos anos 90
Nessa época,
Chompiras tinha como parceiro Peterete, interpretado pelo genial
Ramón Valdez. Suas armações nunca davam certo. Os bandidos
pé-de-chinelo nunca conseguiam consumar seus crimes, que via de
regra consistiam em arrombar casas, furtar carteiras ou dar
pequenos trambiques, como sair sem pagar a conta de um
restaurante.
Confesso que,
apesar do entrosamento e da genialidade da dupla
Chespirito/Ramón, achava o quadro meio fraco de possibilidades.
Tendo apenas os dois como personagens fixos (com algumas
participações de Villagrán como o guarda), não havia muito
como desenvolver uma história mais complexa, como acontecia com
Chaves e Chapolin (que, apesar de não ter personagens fixos,
tinha tramas muito bem elaboradas). As situações eram mais ou
menos as mesmas: os dois tramando algum pequeno golpe, que nunca
dava certo.
Com a volta do Programa Chespirito, em 1980, o quadro Chompiras ganhou mais espaço. E o ladrão baixinho ganhou um novo companheiro: Botijão, interpretado magistralmente por Edgar Vivar (que já tinha feito sua estréia em 1979, no programa Chapolin, episódio da Festa a Fantasia).
Botijão, o novo parceiro de
Chompiras, assumiu as características de Peterete
No início, a
mudança foi apenas de personagem. Botijão fazia as mesmas
coisas do que Peterete. Era o líder da dupla, e
esbofeteava o seu companheiro sempre que ele fazia ou falava
alguma besteira. As situações eram praticamente as mesmas. Os
bandidos tentavam dar os seus golpes, mas sempre acabavam se
estrepando.
Até que,
poucos anos depois, uma nova personagem foi incluída no quadro.
Trata-se de Chimoltrufia (Florinda Meza), uma mulher simplória
que virou a cabeça de Botijão. Suas tiradas impagáveis e seus
bordões inesquecíveis (o que está pretendendo tratar de querer
insinuar, será a mãe do guarda, porque vou dizer que não se é
sim) trouxeram um novo brilho ao quadro, que foi ganhando cada
vez mais espaço dentro do Programa Chespirito.
No início,
foi Chimoltrufia que se adaptou à vida de Botijão. Ao
contrário do que todos pensam, Chimoltrufia também passou a ser
um pouco desonesta. Na primeira metade da década de 80, a mulher
de Botijão era uma espécie de consultora
intelectual da dupla de ladrões. Chompiras e Botijão
falavam de seus crimes na frente da mulher com a maior
naturalidade, e ela até ajudava algumas vezes. Os dois
continuavam a ser desonestos, e Chimoltrufia parecia paralisada
frente ao mau-caratismo do marido. Ali, parecia que o chefe da
casa era o homem.
A criação da impagável
Chimoltrúfia foi decisiva para o crescimento do quadro
Chompiras
No entanto,
tudo mudou algum tempo depois. Chimoltrufia conseguiu modificar a
conduta de Botijão. E, por tabela, de Chompiras. Os dois
passaram a ser honestos, não se dedicando mais a uma vida de
crimes. Apenas as características físicas, vestuários e
personalidade dos dois continuavam as mesmas. Chompiras seguia
apanhando de Botijão, e às vezes até de Chimoltrufia, que
passou a ser a alma da série. Uma espécie de Seu Madruga do
Chaves, mal comparando. Chimoltrufia passou a mandar em Botijão
e até em Chompiras.
Logo após a regeneração, as dificuldades eram grandes. Chompiras e Botijão não tinham emprego, e passavam episódios e episódios lendo classificados de jornais em busca de alguma colocação. Tempos depois, os dois e mais Chimoltrufia conseguiram emprego: iriam trabalhar em um hotel, de propriedade do velho senhor Lúcio (ou Luiz). Ali, mais personagens fixos apareceram: o Sargento Refúgio (Ruben Aguirre), a Maruja (Maria Antonieta de Las Nieves), Delegado Morales (Raul Padilla), Dona Añachita (Angelines Fernandez) e Dona Espota Verderona (Anabel Gutierrez). Refúgio era apaixonado por Maruja, Dona Añachita por Chompiras e Dona Espota Verderona era a mãe da Chimoltrufia.
Dona Espota Verderona, a mãe da Chimoltrúfia, personagem criada nos anos 90
Os novos
personagens e o novo local de trabalho deram um enorme salto de
qualidade ao quadro, que passou a ser o carro-chefe do Programa
Chespirito. Até os tradicionais Chaves e Chapolin foram
relegados a segundo plano. Com um enorme número de novas
situações a serem exploradas, em muitos casos o quadro
Chompiras ocupava os 40 minutos do Programa Chespirito, com
histórias que não perdiam o fôlego. Convidados especiais, em
geral interpretando vilões, davam ainda mais dinâmica aos
episódios. Chimoltrufia era arrumadeira, Chompiras carregador
(sempre exigia gorjetas dos hóspedes, senão não levava a
bagagem) e Botijão era ascensorista (apesar do elevador nunca
subir com ele).
Muitas das
histórias aconteciam também na delegacia. Sempre havia alguma
queixa contra Chompiras ou Botijão, em geral feitas pela Dona
Añachita. Mas os dois sempre acabavam inocentados, não sem
antes muita discussão entre todos. Mesmo quando as histórias
não aconteciam lá, acabavam lá.
O hotel de Don Cecílio, palco das histórias de Chompiras na década de 90
Após algum
tempo, mudou o hotel e também o dono. No novo cenário, o
proprietário era o Seu Cecílio (Moisés Suarez), cujo ator
também passou a participar de outros quadros. Mais ou menos
nessa época, a atriz Angelines Fernandez se afastou devido à
doença, vindo a falecer tempos depois. Para cobrir sua
ausência, a Dona Espota Verderona ganhou ainda mais
espaço.
Mas as
histórias continuaram normalmente. Nem mesmo a morte repentina
de Raul Padilla serviu para acabar com a série. As situações
no hotel continuavam. Era Refúgio tentando conquistar Maruja, as
cantorias de Chimoltrufia, a falta de disposição para o
serviço de Botijão e Chompiras, as broncas do Seu Cecílio, os
hóspedes do hotel (que nunca eram normais), enfim. Chompiras
praticamente tomou conta do Programa Chespirito.
Isso durou
até 1995, quando o Programa deixou de ser gravado e cada um foi
para um lado. No Brasil, o programa foi transmitido em 1997 pela
CNT. Como estive afastado do meio CH na época, não acompanhei.
Apenas de uns tempos para cá, quando consegui vários episódios
da CNT com meu amigo Valette Negro, agora parceiro no
Turma-CH.
Comparando com
os episódios originais em espanhol, pode-se perceber que a CNT
manteve as características do quadro. Os nomes dos personagens
eram os mesmos, a dublagem também seguia o mesmo padrão.
Infelizmente durou menos de um ano no ar. Em 2001/2002, o SBT
exibiu o Programa Chespirito, rebatizado como Clube do Chaves. A
dublagem diferente e as alterações nos nomes dos personagens
meio que deturparam o sentido original dos quadros.
Comparando CNT
97 com SBT 2001, ficaria com o programa da CNT, pelos motivos que
falei acima. No entanto, é muito importante que os quadros do
Programa Chespirito estejam de volta na televisão brasileira.
Chompiras, Chaparrón e Chapatin são muito divertidos para
ficarem de fora desse jeito.
Tenho duas
sugestões para dar. Como sei que o SBT não voltaria com o Clube
do Chaves, eu proponho o seguinte: alguns quadros do Clube
poderiam ser aproveitados dentro do programa Chaves. Como Chaves
tem cerca de 1 hora e 10 minutos de espaço, 10 minutos por dia
poderiam ser repassados para algum quadro do Clube. Os quadros do
Chaparrón e do Chapatin duram sempre isso, e vários do
Chompiras também. Não seria excelente que, nesses 70 minutos de
espaço, tivéssemos um episódio clássico do Chaves, um do
Chapolin e um Chompiras/Chaparrón/Chapatin? Por que esse pessoal
de televisão é tão sem idéias?
Outra
possibilidade seria o repasse dos direitos do Programa Chespirito
a uma outra emissora. Uma rede que fosse transmitida em todo o
país, como Record, Bandeirantes ou Rede TV! Tenho certeza de que
qualquer uma delas arranjaria um espaço correndo para quadros de
Roberto Gómez Bolaños.
Bem, era isso amigos. Até a próxima!
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