30 ANOS DO ÚLTIMO DOS MISTÉRIOS

Sim, voltei! O bom filho à casa torna. Não são ilusões ótimas, tampouco "opitícas"...

Retorno pra dizer que às vezes me recordo dos tempos do famigerado, torturante e interminável ruído do discador da Internet. Apesar dos predicados negativos, um ruído saudoso, que me faz voltar aos dias de adolescência já distantes.


A grande rede já não era tão incipiente naqueles primeiros anos da Era de Aquárius. Mas só poder entrar no fim-de-semana, e isso com restrições porque minha mãe sempre queria usar o telefone, e ainda amargar uma conexão lentíssima típica do despertar dos 2000 era dose pra leão. Sequer podia conectar depois da meia-noite e seu pulso único, pois o computador ficava no quarto dos velhos. Fui apresentado à Web dessa maneira, com entradas matreiras e clandestinas em dias de semana, interrompidas de maneira brusca assim que ouvia o barulho da fechadura por parte dos patrões do lar.

Assim, mergulhava num mundo similar ao de fantasia, das fábulas ouvidas na infância. Lá estava eu, maravilhado ao desvendar, nos sites dos mais simplórios designs Geocities e fontes que variavam entre Times New Roman, Arial e Verdana, os mistérios mais banais sobre as séries CH, como os nomes dos atores, os anos dos episódios, a existência dos perdidos e as controvérsias sobre os supostos motivos dos respectivos cancelamentos... e meu imaginário semeava a volta triunfal destes episódios. Nos fóruns CH, em especial o Fórum do site do Cleotais e o do Chespirito BR, que mais tarde se uniriam originando o Fórum Único Chespirito (FUCH), cunhava minhas primeiras amizades virtuais (muitos teria a felicidade de conhecer pessoalmente) e me deparava com mais lendas chavesmaníacas. Meu maior sonho era conhecer a Malicha, o Seu Madroga, a Louca da Escada, rever os Espíritos Zombeteiros do qual me lembrava vagamente da cena do sonambulismo do Madruguinha... Quem era, afinal, o Figurante Narigudo que marcava presença em vários episódios? Questões como estas marcaram o fim de minha adolescência.

Recentemente, o brilhante Fórum Chaves, mais novo e próspero veículo de comunicação entre os fãs das séries, desvendou até o mistério da Yara, aquela dos tamoios. Tratava-se de uma protagonista indígena de uma novela, também de nome "Yara", a ser lançada na ocasião do episódio "Uma Aula de História". Seria tachada de temperamental pela Pópis pela aparição relâmpago. Tal moça de reluzente vestido azul causava até medo em alguns telespectadores. E imagine só, a atriz é ninguém menos que Angélica Maria, a "inimiga" exaltada por Carlos Seidl na voz de um piscante pai da Chiquinha.


Ana Lilian de la Macorra, a eterna Paty, tornando a fonte dos desejos a da juventude (foto: site EGO)


Não só este, como os demais mistérios que permeavam nossa mente anos atrás e citados anteriormente aqui, já estamos carecas de saber não é de hoje. A expansão das redes sociais nos últimos anos, mais o advento da banda larga na metade da década passada, ajudaram a pulverizar as dúvidas. A identidade do Figurante Narigudo, Guillermo Cárdenas, foi esclarecida por ninguém menos que Edgar Vivar. O intérprete do Senhor Barriga, que encantou a todos com sua primeira visita ao país no "Falando Francamente" de Sônia Abrão em 2003, agora praticamente mora no Brasil, com aparições frequentes por aqui. O Fã-Clube Chespirito Brasil localizou o hoje saudoso dublador do Godinez, Silton Cardoso, na época desaparecido. Outra sumida, Ana Lilian de la Macorra, foi descoberta com a beleza dos anos 70 ainda intacta e como uma renomada psicóloga. Não só os episódios perdidos, como também os semelhantes e até os inéditos com dublagem nova, costumam ser apresentados pelo SBT atualmente. Emissoras como Boomerang e TBS, e anteriormente o Cartoon Network, veiculam as séries, incluindo o "Chapolin" que, como há mais de uma década, segue ignorado pelo canal do Cenoura.

Posso parecer meio ingrato pelo turbilhão de novidades no meio CH ao longo de minha ausência, já que fiquei muito desatualizado dos fatos. Posso inclusive cometer alguma gafe nesta crônica (corrijam-me, por favor, se eu "minquivoqueimi" em algo). Mas às vezes, prefiro retornar àqueles tempos de conexão discada que caía a cada dez minutos, para ficar maravilhado com cada descoberta, deliciar-me diante da nova curiosidade, saciar o magnífico texto de Igor C. Barros no extinto site "Tinha que ser o Chaves!", me encantar com as maquetes da vila que desenhavam no Paint (hoje tem centenas em 3D), comparar as mudanças nos bonés e nas camisas dos personagens, viajar na imaginação para recriar os lendários "O Revolvinho do Chaves" e "A Canetinha da Chiquinha", que alguns ainda juram que existem... Mas nada seria igual aos vídeos dos episódios perdidos, lançados pelo antigo Turma CH que mais tarde se tornaria nosso Portal Chaves. Mesmo com péssima qualidade da imagem, já que downloads acima de 10MB naqueles tempos eram um martírio, acompanhar clássicos como "A Pichorra" e "O Radinho no Quico" com o som nítido compensando as manchas no visual foi revolucionário. Revolução de uma época pré-YouTube e high definition.


Jornal do Brasil anuncia "Chapolin" em 24 de agosto de 1984 (foto: Guilherme CH)

Porém, um mistério CH ainda duradouro, algo raro na atualidade, é o momento exato da estreia de "Chaves" na TV brasileira. Momento que, por sinal, está completando 30 primaveras neste 24 de agosto. Aliás, será que foi 24 de agosto de 1984 a real data em que, pela primeira vez, o telespectador caprichou no bombril na antena para ver Seu Madruga lavando roupa no tanque e Chaves despontando com um estilingue, ambos com eco nas vozes? Outra perguntinha: será que foi mesmo "O Caçador de Lagartixas" a primeira epopeia CH que os brasileiros acompanharam? Dou-me luxo a uma nova questão: foi realmente dentro do programa do Bozo? Taí uma hipótese que pode ser rechaçada!

Há 30 anos atrás, as grades do SBT/TVS eram distintas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Na capital paulista, naquele 24 de agosto, "Bozo" não foi veiculado. Ao invés dele, a manhã foi ocupada pela "Sessão Desenho".  Porém, no Rio, na mesma data às 18 horas o Jornal do Brasil anunciava a exibição de... "Chapolin". Foi o Polegar Vermelho quem deu as caras primeiro então? Em contrapartida, o concorrente O Globo dizia que, no horário, passaria "Chaves". E aí?


Já o Globo põe "Chaves" às 18h na mesma data histórica (foto: Billy Drescher)

Na terra da garoa, "Chaves" poderia ter passado, por exemplo, dentro da TV POW, a célebre atração no formato video-game em que a criança, através de uma chamada telefônica, gritava "pau" (ou "pow") para um revólver eletrônico disparar tiros (claro que não adiantava o malandrinho fazer "paupaupaupaupau", pois a tecnologia da época não permitia). Com apresentação apenas em São Paulo, a Folha anunciava sua veiculação às 17 horas no já dito 24 de agosto. Coladinho, 40 minutos depois, começaria a "Sessão Sorteio da Tarde", que antecedia a clássica novela "Chispita". Será que o real début chavesmaníaco teria sido aí? Todos os detalhes do imbróglio histórico estão neste tópico do Fórum Chaves.

30 anos depois, o mistério segue no ar! Pelo menos um!

Parabéns pelas bodas de pérola, nação chavesmaníaca!

Mestre Maciel

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