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O 2º FESTIVAL DA BOA VIZINHANÇA
Fotos: Mestre Maciel e Cássio Ferreira


Mais de cinco mil pessoas marcaram presença

             Exausto, com os pés parcialmente livres dos tênis e envoltos por meias curtas que sequer cruzavam o tornozelo, Dudu Cavallari celebrava em silêncio. Num dos  bancos da sala de embarque do Aeroporto de Cumbica, sua mente era voltada para apenas um pensamento, que provavelmente se perdurará até seu último suspiro: o dia de glória que vivera em solo paulistano.
          Enquanto espera a chamada do avião que lhe conduzirá a Porto Alegre, seu celular toca. Dudu, que examinava o conteúdo de sua mochila, o atende discretamente. Eis que seu pacato comportamento, forçado pelo cansaço e pelas longas horas sem sono, é dissipado... pelo menos naquela ocasião. Do alto de seus 1m97cm, estatura que tivera que heroicamente adaptar aos acanhados assentos dos aviões e dos ônibus que suportara por oito horas (contando ida e volta) desde Rio Grande, cidade onde mora, até a capital gaúcha, Dudu extravasou. Ao interlocutor, com um sorriso de franca satisfação, repetiu à exaustão uma certa palavra de baixo calão que rima com “soda”. Foi só o que se ouviu de sua voz durante a conversa que durara menos de um minuto.


Documentário "El Niño que Somos" chamou atenção no início do 2º FBV

            Tal euforia era plenamente justificada. Todos os sacrifícios valeram a pena. Desde a saída da rodoviária de Rio Grande às 20h de sexta-feira, com o viajante ao seu lado lhe cutucando e chamando a atenção a cada cena do filme exibido no ônibus, passando por mais quatro horas de longa espera no saguão do Aeroporto Salgado Filho, onde chegou por volta de uma da manhã já daquele glorioso sábado... Dudu pelo visto agiu muito bem ao encher seu Ipod com mais de mil músicas...
            Chegou a hora da viagem. Dudu, depois de horas sentado, enfim envergara sua elevada estatura, de fazer inveja inclusive ao próprio Professor Girafales. Encostado na janela do avião, Antônio Felipe, o homem do “Diário do Seu Madruga” aqui do Portal, estava pálido. Era sua primeira viagem de avião desde quando se deslocara da cidade natal Franca-SP para Porto Alegre, ainda bebê há 20 anos atrás. A cada turbulência, por mais leve que fosse, fechava os olhos e as mãos, virava a cabeça para cima como se estivesse manifestando toda sua religiosidade. Seu pavor era tamanho que até o agradável café da manhã reforçado com iogurte, frutas e um pequeno sanduíche servidos na aeronave recusara. Sim, qualquer iguaria que não seja amendoins ou cereais a 5 mil pés do chão é agradável. “Só quero pisar no chão de São Paulo”, dizia, em tom de oração.


Antônio Felipe, Mestre Maciel e Andy: a equipe do Portal Chaves se encontra em São Paulo

            O prejuízo para Antônio pela falta de apetite nos ares seria de exorbitantes oito reais desembolsados num brigadeiro e numa lata de Pepsi Twist no Aeroporto de Congonhas. Fomos amavelmente recebidos por Anderson Caro Nunes Henriques, o nosso querido Andy do nosso site, já munido com um guarda-chuva. Antes de encontrá-lo, Antônio brincou que o nosso webmaster e colunista estaria com uma placa de identificação marcada por um desenho da risada do Mutley, o emoticon mais usado por ele no MSN. Mesmo residindo em Goiânia e ausente da capital paulista desde 2002, Andy atuou como guia turístico no trajeto de Congonhas até a Estação São Judas, na linha Tucuruvi do metrô, de onde não perdeu a oportunidade de fazer fotos, tentando cumprir a promessa de efetuar 500 cliques como havia me relatado dias antes. Saltou um pouco antes, na Estação São Joaquim, onde encontraria sua mãe na igreja. “Só de ter tirado fotos de todos vocês, já fico muito feliz”, revelou, emocionado, ao deixar o veloz metrô paulistano que impressionou tanto Antônio Felipe (acostumado com o lento porto-alegrense e a nível rodoviário).


Rogério Favo, antes de se fantasiar de Quico, encarou um táxi com a gente

        Chegamos na Estação Portuguesa-Tietê, próxima ao Terminal Rodoviário. Na saída, encontramos três chavesmaníacos que nos cumprimentaram ao reconhecer nossas camisas (Antônio Felipe portava uma com Seu Madruga encarnando Jim Morrison do The Doors, e que ainda renderá assunto). Entre eles estava Rogério Favo, o sósia do Quico que certa vez teve coragem de indagar ninguém menos do que a Silvio Santos a respeito dos episódios perdidos, no extinto programa “21”. “Perdidos? Ainda não encontramos”, respondeu o dono do baú e eterno Titio da Caixinha a Rogério, que agora estava conosco na empreitada daquela nublada manhã de sábado.
            Ficamos cerca de 20 minutos à espera da van que nos conduziria ao Mart Center, local do 2º Festival da Boa Vizinhança. Então decidimos pegar um táxi. Resumo da ópera: seis pessoas dentro do veículo, fora o motorista. Antônio Felipe, Dudu Cavallari, Rogério Favo, uma loira de 19 anos com bons atributos físicos e fã da banda emo Fresno; um rapaz simpático, comunicativo e assumidamente fora do armário; e eu.
            Nos ajeitamos da forma mais pragmática possível no carro. Rogério e a menina na frente, ao lado do motorista. No banco de trás, Antônio entrou primeiro. Adentrei o veículo a seguir. O rapaz foi o terceiro e, como era grande, preencheu todo o espaço restante. Mas ainda faltava justamente o maior da turma: Dudu Cavallari. A solução encontrada: se ajeitar no colo do novo amigo e permanecer numa posição desconfortável, com braços encolhidos e o pescoço encurvado encostando no teto do carro, tendo como visão o vidro traseiro, tal qual um elefante dentro de um fusca, quase no sentido literal. Faltando três centímetros para atingir os dois metros de envergadura, certamente esta não foi uma viagem das mais agradáveis para o rio-grandino.


A maquete da vila, antes de ser tomada pelos presentes

  Após Dudu quase sofrer um piripaque a la Chaves, enquanto Rogério Favo, que também é radialista, se divertia com locuções ao estilo emissora FM, chegamos ao Mart Center por volta das 9h45min, e já era perceptível 100 metros de fila para a entrada. Como integrante da equipe de apoio do evento, não precisaria encará-la. Despedi-me parcialmente da trupe gaúcha (Dudu aos poucos colocava seus ossos no lugar) e fui rumo ao galpão reservado para a grande apoteose chavesmaníaca. Era um espaço grande, cuja área já poderia, sem exagero, se equiparar a um quarteirão de megalópole. Pude acompanhar os últimos retoques da organização, como o baterista da banda Viva a Noite ensaiando no palco, o enchimento das bolas do Quico e dos aerolitos, a definição do melhor lugar para a múmia do museu (ficaria ao lado da padiola), pratos descartáveis sendo abastecidos com creme de barbear para servir como tortinhas de merengue... Tudo coordenado de perto por Felipe Araújo e Mauricio Melo, além de Igor C. Barros, o homem do Tinha que ser o Chaves!, sempre munido de câmeras e de sua inseparável bolsa preta.
          Gustavo Nightmare comentou comigo que 3 mil entradas haviam sido vendidas por antecipação, enquanto eu admirava a perfeição da maquete da vila, projetada por ele. Não poderiam faltar o triciclo, a caixa de refrescos (com o mesmo merchan presente nas séries), o pincel com a lata de tinta amarela, os baldes coloridos (sim, tinha vermelho!), os leites do Seu Madruga, o varal com os chapéus de Seu Madruga e Dona Clotilde, mais as gravatas do pai da Chiquinha, a calçola de bolinhas de Dona Florinda e a toalha com as marcas de lama feitas pelas mãos do Chavinho, as pichorras, o pau de equilíbrio do órfão, entre outros objetos marcantes....
            Na mesa ao lado da maquete, pude rever os óculos do Chaves que tanto divertiram minha infância a cada refresco saboreado, tal qual um arco-íris riscando a face em trajeto definitivo. Ao vê-lo intacto, dentro da embalagem original, passou-me pela minha mente um inevitável dejá vú, uma vontade imensa de voltar a ser criança e sair correndo por aí, sem destino e sem problemas, apenas com o intuito de ser feliz. Por alguns segundos, senti essa doce ilusão. Mas logo despertei...


Valette Negro, entre Antônio Felipe e Mestre Maciel

Às 10h30min, o Mart Center oficialmente abriu suas portas para o público apreciar o 2º Festival da Boa Vizinhança. Enquanto via fotos e caricaturas referentes às séries espalhadas por todos os lugares, com o banheiro apresentando, acima da porta, a clássica plaquinha “Caballeros” de um lado e “Damas” do outro, o galpão era tomado aos poucos pela multidão. Antes participara, ainda que com um leve ar de intruso, da “preleção” de Gustavo Berriel na maquete da vila, junto com os demais integrantes do Fã-Clube Chespirito-Brasil e organizadores do 2º FBV. “Vai dar tudo certo, vamos nos divertir nesse dia que será inesquecível”, bradou o dublador junto à corrente formada.


A galera reunida: Dudu Cavallari, Don Juan Thiago, Mestre Maciel, Valter May, Fabão, Antônio Felipe e Eduardo Rodrigues

Eduardo Gouvêa, o Valette Negro, me passou a camisa amarela do evento, referente à equipe de apoio. Coloquei-a por cima da minha do Chapolin. Berriel alertou-me que eu não suportaria o calor, realizando uma premonição do que ocorreria ali horas mais tarde. Outros grandes amigos tomavam posse do Mart Center e se apresentavam, como Don Juan Thiago, Eduardo Rodrigues, Fabão, Luis Pancada, Michel, Paulo Pacheco, Thomas Henrique, Valter May, Victor Mello, entre outros. E claro, pude rever Antônio Felipe e Dudu Cavallari, além de Andy, este depois de ter orado bastante... e com seu inseparável guarda-chuva nas mãos.
            Aquele foi o ápice do festival. Uma autêntica ode à amizade, uma confraria de companheiros de anos de jornada e de parceria, mas que pela primeira vez se reuniam pessoalmente, centralizando, como num laço que jamais irá se desatar, todas as emoções do mundo num ponto só, numa união de corações que talvez nunca mais se repita, com seu nobre sentimento se perpetuando na mente de cada um que viveu aquele momento mágico.


Gustavo Berriel e Mário Lúcio de Freitas, junto com a família de Marcelo Gastaldi, entre eles Juliana (de preto), que veio pedir ajuda para mim

Talvez por isso, tenha deixado de lado minha função de organizador do festival e frequentado pouco os bastidores, já que o papo estava absolutamente fffff... formidável. Mesmo assim, recebi alguns pedidos de informações. Um deles foi de Juliana Gastaldi, ninguém menos do que a filha do grande e imortal Marcelo, o dublador de Chaves e Chapolin. De aparência tímida e frágil, e olhar nitidamente assustado, parecia desamparada em meio à multidão enquanto um dos colaboradores me relatava que ela estava perdida, sem saber como encontrar Berriel e parceiros. Dei as coordenadas a ela e, minutos depois, seria apresentada no palco junto com o restante da família de Maga, no momento da palestra dos dubladores.


Pablo Kaschner autografa os livros de Antônio Felipe e Dudu Cavallari

O jornalista Pablo Kaschner, que teve seu livro “Seu Madruga, Vila e Obra” anunciado no palco por Carlos Seidl (dublador do Madruguinha), também se mostrou desorientado perante o público, que começava a encher o galpão do Mart Center. Um mini-estande ao lado da barraca que vendia camisas, bottons e os livros foi improvisado como seção de autógrafos. Kaschner autografou, além da publicação nova, também o meu “Chaves de um Sucesso”, seu primeiro livro. A dedicatória que ele colocou no seu lançamento em homenagem ao pai da Chiquinha foi “espero que você não precise de 14 meses para ler este livro”. Serei um alguém, Pablo: devorarei-o!


Banda "Viva a Noite" em ação. Atacaram até de Gretchen num festival chavesmaníaco...

Enquanto a banda “Viva a Noite” realizava um show que não chamou muito a atenção, dedicado mais a covers dos anos 80 do que em canções do Chaves, me aventurei na quilométrica fila para obter as fichas para a alimentação nas lanchonetes presentes no local. Vendo tamanha aglomeração, aproveitei e, após meia-hora de barulho proporcionado pelo conjunto do Pânico da TV!, comprei 20 reais de bilhetinhos que acabaria usando durante toda aquela tarde.


Queria ver se essa Dona Clotilde Seu Madruga não encararia...

Na sequência, Mário Lúcio de Freitas mostrou grandiosa simpatia ao apresentar as canções e trilhas compostas por ele para séries e programas do SBT, como “Aqui Agora”, “TJ Brasil”, “Bananas de Pijamas”, “Punky, a Levada da Breca” e, é claro, “Aí vem o Chaves”. Mário Lúcio causou frisson ao entoar a música da Chiquinha, gravada pelo próprio no clássico LP do Chaves em 1989. Ao mesmo tempo, o trio do Pânico formado por Repórter Vesgo, Ceará e César Polvilho arrastava multidões ao seu encalço. Já a equipe do “Domingo Legal”, encabeçada por David Brasil e pela deslumbrante Bruxa do 71 na pele da ex-BBB Maíra Cardi, também empolgou os presentes.


Carlos Seidl (D), ao lado de Felipe Araújo e Mauricio Melo

A multidão que passaria de 5 mil pessoas mostraria de vez seu poder a partir da já concorridíssima palestra dos dubladores. Um a um, os donos das eternas vozes dos personagens eram chamados ao palco por Gustavo Berriel. Ao invés de falas aleatórias por parte de cada, foi criado um roteiro, com início, meio e fim, seguido fala a fala pelos profissionais e arrancando gargalhadas do público, que encolhia cada vez mais o espaço do galpão. Carlos Seidl, na hora em que encarnou Seu Madruga, bradou “Não existe trabalho ruim...”. Eis que, tal qual um grito de torcida em decisão de campeonato, a galera complementou em uníssono: “...O RUIM É TER QUE TRABALHAR”. Os aplausos tomaram o Mart Center.


Dubladores arrasaram. Da esquerda pra direita: Marta Volpiani, Sandra Mara, Carlos Seidl, Silton Cardoso, Cecília Lemes, Beatriz Loureiro e Patricia Scalvi

Em seguida, ocorreu um dos momentos mais arrepiantes do 2º FBV: a exibição nos telões de um documentário sobre a dublagem das séries, com homenagens aos falecidos Marcelo Gastaldi, Mário Vilela e Helena Samara. Os dois últimos apareceram em entrevistas concedidas a Berriel, durante os trabalhos nos Estúdios Gábia em 2005. Inclusive, foi apresentada pela primeira vez ao público a dublagem de Mário para o personagem Botijão, no episódio “O Amigo Defunto” (presente no 1º box da Amazonas Filmes). Seu trabalho no trecho exibido é impecável, nem parecia que ele teve de interrompê-lo devido aos problemas de saúde que já lhe corroíam. Tanto que, bem-humorado, contou durante a entrevista piadas sobre morte (coincidentemente, era o tema do episódio em que atuou brevemente). Faleceria poucos meses depois.


Sentar ou ficar de pé? Eis a questão...

            Terminada a palestra, um rapaz se dirigiu a mim sugerindo que o público se sentasse para que todos pudessem acompanhar o palco, nas apresentações de Edgar Vivar e Carlos Villagrán. Passei a sugestão aos organizadores, que bem que tentaram levá-la a risco. Por meia hora, o “senta-levanta” ao estilo missa aborreceu tanto a plateia quanto os sósias de Chaves e Chapolin no palco, que certamente atingiram um ápice de estresse que nunca mais terão em outra oportunidade. Quando chegou-se a um consenso e a maior parte das pessoas se sentou, o alvoroço foi geral. Edgar Vivar despontou no palco triunfalmente. O Senhor Barriga. O eterno dono da vila. De paletó, gravata e tudo. Todos se levantaram novamente. Princípio de tumulto no ar...


Se todos os cobradores de aluguel fossem como o Senhor Barriga...

            Edgar Vivar fez por algum tempo todos se esquecerem do calor e abafamento intenso que assolavam o local, já que o galpão estava fechado e a ventilação era precária. Tanto que o próprio ator retirou o paletó minutos depois, alegando que a vestimenta era igual à sogra: dispensável. Mescla de um maestro da mais respeitável orquestra sinfônica com um astro de extrema grandeza da música pop, Edgar regeu com primazia o numeroso público ao cantar “Churi Churi Fun Flays” (a canção dos anões) e “Taca la Petaca”, com direito a orientação de palmas que deflagraram uma imensa apoteose. Principalmente quando, ao lembrar dos colegas já falecidos, citou o nome de Ramón Valdes. Teve a percepção do quão querido é Seu Madruga em terras tupiniquins, numa proporção jamais imaginada.


Edgar Vivar nos relataria depois que ficou horrorizado com o rebuliço causado pelos humoristas do Pânico

            Ao término da canção, enquanto as lágrimas começavam a escorrer por sua face, Edgar se assustou com a invasão de palco do trio do Pânico na TV. Os integrantes do programa, ao som de vaias em virtude do tratamento ríspido destes junto ao público ao pressioná-los contra a grade que os separava do palco, “doaram” ao Senhor Barriga um cheque fictício com os 14 meses de aluguel devidos por Seu Madruga. César Polvilho, com a fantasia do Pai da Chiquinha, gritava “Os 14 meses de aluguel estão pagos”, enquanto do público só se ouvia “Vesgo veado” e “Ei, Pânico, VTNC”. Os humoristas, ao serem limados do palco como invasores de gramados inconsequentes em jogos de futebol, arrancaram aplausos da galera. Gustavo Berriel, com o microfone a postos, bradou “Esse evento é destinado aos fãs, e não a um programa de TV”. Mais aplausos...


Chegava a vez de Carlos Villagrán brilhar

            Meia hora depois, chegara a vez de Carlos Villagrán. Novo frisson, como já era de se esperar. Apareceu brevemente “à paisana”, com um blusão listrado, calças compridas e um ar de vovô jovial contagiante e amigo de todos. Na sequência, já acompanhado pelo dublador Nelson Machado, despontou com a sua mais famosa vestimenta. O negro terninho de marinheiro, o boné colorido, mais o espírito infantil e atrapalhado que lhe toma por completo mesmo aos 66 anos de idade... Quico, Quico, rá, rá, rá! E com direito a moonwalk...


Quico cercado por três grandes dubladores: Cecília, Nelson e Marta

            Louvado seja quem teve a ideia de reunir no palco as dubladoras Cecília Lemes e Marta Volpiani junto à Villagrán e Nelson. Principalmente pela entrada triunfal da voz de Dona Florinda no palco, surpreendendo a todos. Extasiado, Nelson Machado, após apresentar o neto mais velho e advertir a plateia que ambos deixariam o palco caso o tumulto se estendesse (demonstrando sua já conhecida personalidade forte), recebeu uma ovação quiçá tão imensa quanto a destinada aos atores quando, no clímax da emoção e quase às lágrimas, declarou que “assim como Carlos Villagrán se alimenta graças ao personagem, o Quico também dá de comer aos meus filhos”.
            Após a apresentação do intérprete do Quico, aproveitei para espiar os bastidores. O repórter Ney Inácio entrevistava Cecília, Marta e Berriel para o “Programa do Ratinho”. Numa sala colorida ao fundo, Carlos Villagrán reencontrava o trio do Pânico na TV, um ano e meio após a histórica entrevista realizada pelos humoristas no México. Em uma sala próxima, o autor da elogiada Lista CH de Episódios, Thomas Henrique, estava deitado no colo da mãe com semblante de choro. Talvez ainda incrédulo por ter posado para fotos com Vivar e Villagrán (com quem apareceu na matéria veiculada no Programa do Ratinho).
            O galpão do Mart Center se esvaziou, ainda que comportasse uma multidão, com a queda da noite escurecendo quase por completo o ambiente. O local mais iluminado era o palco, onde ocorria um concurso de fantasias das séries. Don Juan Thiago então sugeriu que fôssemos até o hotel Holiday Inn, local onde os atores estavam hospedados (próximo ao Sambódromo do Anhembi), para tentar abordá-los. A princípio, recebera do amigo Cássio Ferreira a informação de que Edgar Vivar iria saborear uma feijoada em um restaurante e não voltaria cedo. Mesmo assim, topamos mais aquela aventura. Antes da despedida, ainda encontrei outros amigos como Gustavo Alves, Matheus “Alma Negra”, Pança Louca, Rodolfo “Spider” e Wilsinho. Chegara a hora de dizer àqueles intrépidos parceiros: “boa noite, vizinhança!”.


A reconciliação de Edgar Vivar e Carlos Villagrán na coletiva do Holiday Inn, após 10 anos sem ambos se verem

            Levamos uns 10 minutos para chegar ao Holiday Inn, um hotel luxuoso e sofisticado, com saguão brilhante, requintado e impecavelmente decorado. Na TV da recepção, era exibida uma partida de futebol. Don Juan Thiago, braço direito desta nossa louca empreitada e já com alguma intimidade com Edgar Vivar no Twitter, obteve também a colaboração de um produtor com espanhol fluente. Um pretexto decisivo foi o presente do sósia do Chaves Filipe Chambón ao intérprete do Nhonho: um CD com os grandes momentos do ator, como um Festival no Chile em 1977 e a entrevista concedida por ele à Sônia Abrão em 2003. Recebemos a condição por parte de Vivar de que não teria que haver multidão no encontro. Por isso, fomos esperá-lo no corredor dos elevadores, situado na lateral ao fundo e, portanto, fora da vista dos fãs reunidos do lado de fora do hotel.


E a turma aborda Pirolo...

            Antes, fomos submetidos à primeira sobrecarga de profundo êxtase: Carlos Villagrán aparecia junto com a esposa no saguão do Holiday Inn. De imediato, foi cercado por nossa trupe. O intérprete do Quico dirigiu o olhar para a camisa de Antônio Felipe, com a montagem do rosto de Jim Morrison com a face do Seu Madruga, e balbuciou: “Tá bonito o Madruga...”. Evidente que Antônio paralisou de emoção, de maneira a sair lado a lado com o astro (e cobrindo parte do meu rosto, como podem perceber acima). Villagrán parecia ter pressa, tanto que deixou rapidamente o saguão, mas não sem antes posar rapidamente com os outros fãs à espreita do lado de fora. Mas o ator parecia estar sem paciência, tanto que ele e a mulher, esta com semblante de assustada, deixaram o local rapidamente. Nem à imploração de uma moça com voz doce “Carlos, por favoooor...” o fez ceder.


Não tinha 14 meses de aluguel para pagar. Espero que Edgar Vivar não tenha se importado... Ao meu lado, Don Juan Thiago

            De volta aos elevadores, lá estavam Dudu, Antônio, Thiago, Chambón, Cássio Ferreira “Chompiras”, Moisés “Seu Madroga” e eu (e o burro na frente). Por volta de 10 minutos, observávamos atentamente os painéis dos cinco elevadores e suas posições. Para cada um que apresentava a contagem regressiva até o andar térreo, nossas atenções eram desviadas. Após dois alarmes falsos, cuidamos do terceiro elevador que desceu. A porta se abriu. Rapidamente, notou-se a camisa e o boné de cores azul-marinho, mais a calça bege de um senhor baixinho, boa-praça e um pouco acima do peso. Sim! Era ele!


Antônio e Dudu, ao lado de Edgar. Pelo visto valeram a pena os oito reais pelo lanche no Aeroporto e o passeio no colo do rapaz...

            Com um quê de “não me belisca que eu devo estar sonhando”, mais a sensação nítida de que “sim, ele existe e é de carne e osso”, Chambón entregou o CD para Edgar Vivar. O ator começou a ler atentamente o encarte, em voz baixa enquanto a turma permanecia abobalhada: “Homenagem ao Seu Barriga no Falando Francamente, Seu Barriga com a Turma del Chavo em Chile em 1977...”. Surpreso, subiu o tom de voz e se entusiasmou: “DEL CHIIIIIIILEEEE??? UUUUUUUUU...”. Edgar conversou com Cássio e Thiago, que aproveitou para lhe perguntar sobre a suposta feijoada que teria saboreado. Edgar corroborou a informação, com Thiago entregando que Cássio era quem havia espalhado a notícia, já que falara com o ator horas antes. Veja abaixo o encontro, filmado por este quem vos fala.

            Antônio Felipe e Dudu Cavallari lembraram a Edgar Vivar que conversaram por MSN com o ator na véspera. Eu relembrei a frase dita por ele no “Falando Francamente” em 2003 de que éramos “uma carícia em seu coração”. Vivar sacudiu a cabeça positivamente, mostrando também se lembrar do dito. Aproveitei pra dizer que ele sim era uma carícia em nossos corações. Vivar prontamente me agradeceu. Moisés também presenteou o ator com uma bela caricatura do Senhor Barriga. Após comentar que ficara horrorizado com o princípio de selvageria no evento, comunicou-nos que iria conhecer Guarujá no dia seguinte. É isso mesmo: Senhor Barriga iria enfim se deparar com a Acapulco brasileira eternizada pela dublagem Maga...


Em primeira mão: colunista do Portal Chaves obtém o peso atual de Edgar Vivar

            Já um pouco mais íntimo, comentei com Edgar sobre o site Portal Chaves, que ele alegou já conhecer, e quando disse que eu era o webmaster, me perguntou: “É você? Parabéns!”. Então aproveitei para travar o seguinte diálogo:
            - Verdade que você perdeu 74 quilos?
            - Sim!
            - E quanto você pesa hoje?
            - 74 quilos menos!

            Sim, fui escada de um diálogo típico das séries. Quer honraria maior?


Esquerda pra direita: Antônio Felipe, Filipe Chambón, Dudu Cavallari, Edgar Vivar, Cássio Ferreira, Mestre Maciel, Moisés e Don Juan Thiago

 Após a foto em grupo, nos despedimos de Edgar. Reverenciei-o. O intérprete do dono da vila, brincalhão e serelepe, imitou meus movimentos com uma leve sacudida de pescoço mais os braços esticados. Abracei-o e, em virtude de sua baixa estatura, pude sentir o perfume de sua careca.
            Edgar retornaria a seu quarto. Antes da porta do elevador se fechar, aproveitei e gritei:

            - Nós te amamos!
            - Eu também amo vocês!
– devolveu.
            E a porta se fechou.


Edgar esbanjou simpatia durante todo o bate-papo

 Aquela cambada de marmanjos pela qual eu estava incluído, saltitando e vibrando em pleno saguão do luxuoso Holiday Inn, era, naturalmente, uma cena nada incomum diante da ilusão vivida. Nos beliscamos. Não acordamos. Não era ilusão. Era real!
            É, portanto, compreensível o êxtase de Dudu Cavallari ao celular, poucas horas depois, já prestes a voltar para casa. Depois do sonho vivido, poderá ajeitar sem problemas seu corpanzil até em uma velha Romiseta, num trajeto rodoviário de Rio Grande a São Paulo, para o próximo Festival.
            Sim, haverá um próximo Festival.
            Quando? Ainda não sabemos...
            Só sei o que diz aquela linda canção:
            Prometemos despedirmos sem dizer adeus jamais.
            Nos haveremos de nos reunirmos muitas vezes mais...

Mestre Maciel
marcofelgueirasmaciel@gmail.com